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Filme
Tanaka Rena
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Eu recentemente legendei a entrevista da Hirate Yurina no Sugar & Sugar pra que eu pudesse comentar sobre ela aqui. Eu também disponibilizei uma transcrição da mesma junto (embora não seja de fato uma transcrição das reações e sim apenas da conversa) para quem prefere ler.
Você pode acessar e baixar ambos aqui.
Naturalmente, é necessário assistir para que vocês saibam do que eu estou falando - acho que principalmente porque as reações da Techi nessa entrevista são bem importantes pra entender o conteúdo dela. Eu percebi boa parte disso quando estava legendando, e pra quem talvez nunca tenha feito isso, a tela da legenda possui também o espectro de áudio para facilitar enxergar onde as falas terminam ou começam.
Essa ferramenta acaba também permitindo enxergar alguns padrões no jeito que as pessoas falam. A Techi tem um padrão bem característico que se repete muito ao longo da entrevista - e como alguém que também passou boa parte da vida sendo tímido, é bem recorrente: a voz e a expressão vão se perdendo ao longo das frases, geralmente com várias pausas no meio das respostas.
-- No caso de Hirate Yurina --
YG: Boa noite
TE: Obrigado
YG: Aqui
YG: Faz um certo tempo, né?
TE: Sim, faz um certo tempo.
YG: Quando tempo faz desde que você veio a gente ao vivo?
TE: Uh...
-- Ativa como um membro do Keyakizaka46 até Janeiro de 2020. Também
é atriz e venceu o Newcomer Awards do "42º Japan Academy Award--
YG: Três anos atrás?
TE: Três anos atrás...certo?
YG: Foi durante o Anrealage, certo. Se não estou enganado.
TE: Sim, isso mesmo
YG: Em colaboração com Morinaga-san também
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TE: E depois daquilo, eu recebi o
convite para sua live
YG: Sim, sim. Você gostou da apresentação?
TE: Sim, eu gostei!
A Techi raramente não é muito educada, pelo menos em público. Ela sempre se refere ao trabalho dos outros com muito respeito e até uma certa saudação. Acho bonitinho, embora as vezes a gente tenha vontade de saber as opiniões sinceras sobre os assuntos.
YG: Fico feliz...Hirate-san é de Aichi?
TE: Sim, eu sou de Aichi
YG: Torcedora dos Dragons?
--Hirate Yurina é torcedora do Chunichi Dragons?--
TE: De maneira alguma...Eh...é um
time de baseball, certo?
YG: Eu sou muito torcedor dos Dragons. Então eu pensei que quando
pudesse encontrá-la, eu realmente queria saber se você também é ou não torcedora?
Você não é?
TE: Eu não sei absolutamente nada
deles
Ah, acho que o Ichiro começou apertando os botões certos aqui. Ele pergunta sobre a terra natal dela, e pergunta sobre uma das coisas mais famosas da região - o time de beisebol Chunichi Dragons. Eu acho que a pergunta "Eh...é um time de baseball, certo?" é o equivalente de alguém de São Paulo perguntar "O Corinthians é um time de futebol, certo?" - mas essa é a pergunta mais Techi que existe. Não consigo não lembrar de um episódio do Keyakake que ela não sabia da existência do dia da mentira.
Justiça seja feita, o Dragons é na verdade da Nagoya, mas é bem comum que as pessoas de Aichi torçam pro time por proximidade.
Esse é um detalhe interessante - a gente sabe que a Techi é de Aichi, mas Aichi é na verdade uma região e não uma cidade! Acho que é mais provável que ela seja de uma cidade menor, ela nunca pareceu uma menina das mais urbanas.
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Ah, não me diga. |
YG: Eu assisti o seu filme...O Hibiki. Eu assisti ele.
TE: Eh... que constrangedor.
-- Lançado em 2018 Diretor - Tsukikawa Sho, estrelando Hirate
Yurina. Mostra a vida de uma menina escritora genial de 15 anos, no mundo das
artes literarias
TE: Eh... não, não
YG: É bem interessante! Ótimo...
TE: Ah, sério?
YG: Mas de alguma forma, Hirate-san é tipo... incrível. Você deixa
natural.
TE: Ah, sim. Me falam isso
frequentemente.
YG: Você tenta deixar natural? Ou naturalmente fica desse jeito?
TE: Ah, de forma alguma. Eu não
tenho intenção de fazer ficar natural.
YG: Então é natural para você
TE: Sim.
Como alguém que assistiu Hibiki antes de ver as coisas mais atuais dela, acho que esse comentário faz sentido. Ela realmente não parecia uma principiante, embora ela tenha melhorado bastante. Acho que o personagem da Hibiki ser um tanto... caricato, pra dizer o minímo, ajudou bastante.
Não sei se ela teria se saido tão bem se dessem logo um personagem muito complexo no primeiro grande papel dela. Dito isso, Hibiki é um salto bem grande dos doramas do Keyakizaka46, que são um pouco ingênuos, embora o primeiro seja bem legal de assistir (mas fuja com toda seu fôlego do segundo).
Acho que a resposta dela de "ser natural sem tentar" é compatível com o resto que nós já vimos. Mesmo que vimos a Techi um tanto depressiva, acho que ninguém tinha a impressão que era forçado. Vendo por esse lado, é realmente um faca de dois gumes.
YG: Atuar é divertido?
TE: Hm, mas de alguma forma... Meio
que... eu gosto do momento... por várias discussões.
YG:O que quer dizer com "discussões"
TE: Me pergunto... Além de atuar,
tem a hora de falar com os criadores. Eu meio que gostava disso. Encontrar com
eles e tudo, é bem divertido.
O próprio autor de Hibiki ficou bem feliz com a escolha dela pro papel. Então acho que eles devem ter desenvolvido um bom papo em algum momento.
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Eu adoro eles terem refeito várias capas do mangá com ela |
YG: Até agora, o que você mais odeia?
TE: Ehh, o que eu mais odeio?
YG: Tipo, "Isso é o pior! ... Quando você entrou nessa área,
algo tipo "Isso é absurdo" e "Que diabos é isso?"
TE: Eh, tem um tanto bom...Tem um
tanto bom
YG: Tem mesmo?
TE: É, tem sim.
YG: A melhor experiência? Que você se sentiu tocada, ou que você
não teria essa experiência se não fosse esse trabalho.
--A melhor coisa que já aconteceu com você? --
TE: Bom, isso. Deve ser... encontrar
pessoas? Tem uma parte de mim que é verdadeiramente grata por esses encontros.
Se eu não tivesse entrado nesse mundo, eu não estaria encontrando as
pessoas...que eu tanto encontrei.
YG: Oh, isso é verdade.
TE: Eu acho que... essa é a parte
realmente boa.
Quando o Ichiro fez a pergunta, eu tinha certeza que a Techi iria sair dela pela tangente. Não por maldade, mas simplesmente porque esse tipo de pergunta é bem ingrata de responder. A reação dela é a esperada pra esse tipo de problema. Não pegaria bem se ela respondesse "eu odeio participar da divulgações, é cansativo eu preferia estar em casa dormindo", mas também não seria satisfatório e bem fora do persona dela responder "eu gosto do processo todo".
Ela, porém, responde a pergunta do único jeito possível. As pessoas e as experiências são talvez a coisa imaterial mais valiosa que alguém do showbiz possui, principalmente alguém que passou por todo o processo que ela passou.
YG: Qual a sua ocupação?
-- A ocupação de Hirate Yurina --
TE: Eu me pergunto...
YG: Bom, quando você ainda estava no grupo...Há profissões como
"cantora"
TE: Sim
YG: Coisas do tipo... bem, tem várias, como personalidade, mas isso
pode ser um pouco estranho... como cantoras...Mas se alguém te perguntar
"Qual seu emprego?", o que você responderia?
TE: Me pergunto... até recentemente,
eu era uma aluna do ensino médio
YG: Ah, é isso? Uma aluna do ensino médio!
TE: Então eu respondia com
"estudante", mas agora eu estou na faixa de idade da
universidade...Me pergunto se eu ainda posso responder com
"estudante".
A surpresa do Ichiro aqui é bem sincera. Acho que não só ele, mas muita gente não lembra que a Techi tinha só 19 anos no momento dessa entrevista - eu não vou ficar aqui chamando gente com mais de dezoito de criança ok - mas ela é alguém que vem trabalhando desde os quatorze.
Basicamente TUDO o que nós vimos da Techi até agora, aconteceu enquanto ela era um estudante. Eles discutem um pouquinho dessa questão da idade abaixo, então logo me aprofundo nisso.
YG: Mesmo agora você ainda não se sente como tendo 19 anos, certo?
TE: Não
YG: Se sente como uns vinte e poucos?
-- O quão velha você acha que é? --
TE: Eh, é bem o contrário. Bem, eu
sinto que minha idade parou nos 14.
YG: O oposto?
TE: O oposto.
YG: Continuou como uma garotinha?
TE: Sim, uma criança, ou então... as
pessoas ao me redor ainda me chamam de "pirralha", "bebe".
Eles dizem coisas como se eu fosse bem criança e tal...Então, gradualmente, eu
fiquei mais infantil.
Isso de se sentir como uma criança é bem comum pra quem começa a trabalhar muito cedo, e é bem recorrente em entrevistas de quem passou por isso. Quem trabalha desde a infância ou adolescência com entretenimento acaba sendo muito protegido, e muitos sentem que não se desenvolveram completamente.
Isso não é absoluto, mas é bem similar a situação da Techi. Center com quatorze anos e com uma responsabilidade imensa de ser a cara de um dos maiores grupos do país. Muitas coisas, muitas dificuldades "normais" (aquelas que todo mundo passa na vida) ela provavelmente só está experimentando desde que saiu debaixo da asa do grupo.
YG: Mas você pode falar casualmente comigo, no meu ritmo. Eu sinto
que estou falando com alguém de vinte e poucos ou trinta e poucos, um adulto
que trabalha
TE: Ah... mas de alguma forma,
quando eu preciso fazer direito, eu falo normalmente.
YG: Eh? Você está fazendo direito agora, ou não?
TE: Não, eu estou fazendo direito!
YG: Como é quando você não está fazendo direito? É mais como? Como
uma garotinha?
TE: Quando eu não estou fazendo
direito...bem...
YG: Tipo ficar falando "Não, não e não!"
TE: É, bem, quando eu não estou eu
diria coisas bem egoístas
YG: Eh? Sério? Que tipo?...Que tipo de coisas egoístas você diz? Eu
quero saber
TE: Eu realmente adoro pegadinhas...
Bom, eu diria que...tipo desenhar
--Hirate Yurina adora pegadinhas--
TE: Ou colocar um sticker no celular
do meu manager sem permissão...Esse tipo
YG: Que pirralha!
TE: Ou fazer a tela não
funcionar...Se você digitar a senha umas três ou cinco vezes... você não
consegue usar por uns 5 ou 10 minutos, certo?... Eu faço isso de propósito e
depois levo bronca
TE: Eu fico fazendo esse tipo de
coisas sem sentido. Isso é quando eu não estou levando a sério. Isso é quando
eu estou fazendo coisas estúpidas.
Acho que esse é meu trecho favorito da entrevista toda. Não tem muitas situações onde a gente pode ver a Techi flertando com humor assim, falando de brincadeiras e travessuras. Temos alguns outros exemplos como nos primórdios do Keyakizaka46, ou o date (?) dela com a Memi - mas no geral isso é bem raro.
Eu fico realmente feliz quando a gente tem uns momentinhos assim. Ela falando de bloquear o celular do manager errando a senha várias vezes - eu consigo me imaginar fazendo isso com algum amigo. Acho que a reação dela é a melhor parte, ela parece bem sorridente nesse trecho se comparado a postura mais contida e cautelosa no resto da entrevista.
Agora nós sabemos como a Techi é quando ela não está levando as coisas a sério.
YG: Entendi. Mas então, isso é só você sendo infantil? Ou é um
jeito de demonstrar afeto?
TE: Me pergunto se esse é meu jeito
de demonstrar afeto... mas eu só faço isso com gente que tem um coração bom
para perdoar.
YG: Mas, Hirate-san aceitou a oferta para essa conversa, certo?
TE: Sim
YG: Eu de algo forma, realmente...bem, eu fiquei bem feliz mas...
TE: Não, obrigado.
YG: As pessoas ao meu redor ficaram tipo "Hirate-san?",
"Ela aceitou a oferta??"
YG: O clima ficou bem alegre...De alguma forma, tipo, eu acho que é
uma perda
TE: Eu sou? Eh...
YG: Eu quero dizer... só de falar com Hirate-san por um minuto
TE: Sim
YG: Tipo durante a live também
TE: Sim
YG: Hirate-san é tipo... eu já achava que você é alguém bem fácil
de conversar.
-- A primeira impressão um do outro --
TE: Bom, essa em específico...
TE: Eu pensava que eu não parecia
fácil de se aproximar, ou que eu tenho uma grande imagem pública, ou que pareço
assustadora
TE: Já me falaram isso
bastante...Mas quando nos encontramos a primeira vez, você veio... dizendo
saudações
TE: Eu não sei se você lembrou disso
ou não...Mas você disse que eramos similares em algumas coisas, e eu fiquei
surpresa... mas eu genuinamente fiquei feliz por isso.
YG: Eu acho que você é uma pessoa séria... séria e sombria
YG: Mas ainda assim, tipo, nesse mundo glamoroso... você está tendo
um desafio.
YG: porque eu podia entender... mas apesar de tudo, você ainda vai
se preocupar com o que te cerca, certo?
TE: Sim, muito
YG: Bom, "Hirate-san?","Ela vindo?", "Ela
está entrando".
TE: Sim, é bem desse jeito
YG: "Espero poder trabalhar com você", desse tipo, certo?
YG: Por isso eu acho que é uma perda
TE: De algum jeito, as pessoas... me
entendem mal bem facilmente
Essa última frase é talvez o único momento em que eu percebi um pouco de decepção real na voz da Techi. Se não for decepção, é uma dose grande de frustração.
Também interessante a visão que ambos tem da situação. O Ichiro comenta que todo mundo ficou empolgado por ela ter aceitado - o que significa que ela tem uma imagem de ser bem reservada, de raramente se expor. Ela por outro lado já acha que tem uma imagem muito grande e que isso faz as pessoas se afastarem dela ("pareço assustadora"). Ele não concorda com ela, e enxerga ela como bem fácil de conversar.
De muitas coisas que dá pra tirar dessa entrevista, uma das mais legais é sobre o Ichiro. Ele frequentemente durante a entrevista fala que já passou pela mesma situação, e em alguns momentos (principalmente mais pro final) a entrevista vira quase uma sessão de aconselhamento.
YG: Isso é uma pena
TE: Mas bem, no final, mesmo se eu
disser para as pessoas... eu acho que muita gente não vai entender
TE: E eu acho que uma parte de mim
já desistiu
YG: Exatamente. Bom, honestamente... eu tenho esse tipo de
sentimento também.
Esse trecho em específico, assim como disse antes, também carrega uma certa frustração. Aquela tipíca frustração de quem se sente incompreendido.
A resposta do entrevistador é bem direta "Exatamente." - quase que como ele dissesse "É assim mesmo, faz parte". Acho que ele quer dizer (e ele diz depois) que esse tipo de frustração é inevitável, e que você não deve simplesmente levar isso tão a sério assim.
-- Coisas para superar e entender um ao outro --
YG: Mesmo que o que eu sinta seja "esse é definitivamente mais
legal", "esse é bem mais interessante" ou "esse é
melhor"
YG: Mesmo se eu disser isso, eles vão só dizer "Heh?"...
e "Não, não é!". Eu não conseguiria fazê-los entender.
YG: É por isso que, de forma a superar isso, eu tento me enturmar
com eles.
TE: Se enturmar...
YG: Uma vez eu fiz isso... eu disse "Seus pensamentos são
muito bons"
YG: Construí relação... Afinal, esse é sempre o caso de relações
YG: E não é muito mais fácil mudar você, que mudar os outros?
YG: Porque essa coisa de mudar as pessoas é difícil\
TE: Isso é mesmo
YG: É por isso que, lidando com esse tipo de pessoa, eu digo a eles
as coisas que não estou entendendo...E depois de chegar em um entendimento, eu
proponho meu pensamentos, "Isso não é mais interessante?"
YG: Mas, pessoas que dizem "Não!" desde o princípio...
não vão aceitar...Obviamente, apesar
TE: Mas assim, depois de falar, tem
alguns deles... que eu penso "Essa pessoa está definitivamente
errada".
TE: Isso é difícil...ou pelo menos
eu penso assim.
Primeira sessão de aconselhamento do Yamaguchi Ichiro. Ele comenta todo esse processo - e a Techi parece bem pensativa durante todo o discurso. Ela termina dizendo que as vezes ela não consegue levar aquilo tão pacificamente ("Essa pessoa está definitivamente errada"). Acho que faz total sentido - não é fácil ser flexível o tempo todo, principalmente quando alguém está sendo... inflexível.
O método do Ichiro é se enturmar e construir as bases pra discordar aos poucos. Esse não parece ser muito o estilo da Techi - ela parece ser mais do time "se é pra falar que fale de uma vez".
YG: É por isso que tenho certeza que Hirate-san tem o seu próprio
charme.
YG: Do ponto de vista dos outros, Hirate parece "fora do
lugar"... acho que as pessoas são atraídas por essa sensação.
-- O charme de Hirate --
YG: É por isso que eu acho... deve ser realmente difícil e
cansativo para Hirate-san... você está tentando guardar tudo com você mesma.
YG: Eu acho, que tentar guardar tudo para você, é um charme por si
só.
YG: Normalmente, as pessoas ficam tipo, se ajuste para vender bem,
ser conhecido e adorado... isso é normal.
YG: Mas eu acho que Hirate-san é um artista, enquanto você não vai
se curvar a vontade dos outros, você continua a fazer sua própria jogada
TE: É isso mesmo
YG: Isso é o que eu pensei... então acho que é uma perda. Porque
caso contrário, é bem atrativo.
Eu concordo com esse suposto "charme" observado. A Techi sempre pareceu "fora do lugar" e isso era mais atrativo na figura dela. Por outro lado, isso de guardar tudo pra ela tem um preço - e bem, nós sabemos em parte qual foi esse preço de se sentir deslocada por tanto tempo.
Ela não se moldar a situação simplesmente pra se vender é uma qualidade, mas tem seu lado ruim. O lado ruim é sempre se sentir deslocado, de nunca se sentir parte de nada... e isso é um sentimento bem ruim pra qualquer pessoa. Quem quer fazer arte com isso, tem que se habituar de uma forma diferente.
O que sempre me preocupou quanto a isso era que estavam cobrando isso de uma adolescente, quando nem mesmo adultos se acostumam a não se sentir parte de nada. É uma jornada bem longa e difícil.
YG: Você fez o seu debut depois de uma audição, certo?
TE: Sim
YG: Tem um monte de gente que fez a audição, certo... vocês se
conheciam?
-- Durante o período no grupo Keyakizaka46--
TE: Não, nós não nos conhecemos
YG: É o primeiro encontro de todas?
TE: Sim, é o primeiro encontro de
todas
YG: Wow, incrível
TE: É o primeiro encontro de todas.
YG: Você vive por conta própria desde então?
TE: Sim.
YG: Você sequer conhece as pessoas ao seu redor, certo?
TE: Sim
YG: Isso é complicado, é como fazer intercâmbio fora
TE: Ah, sim...bem... eu consigo
entender o que você quer dizer.
YG: Mas a palavra dentro do coração não é entendida certo?
TE: Isso mesmo.
Esse é talvez o trecho que os fãs mais aguardavam: quando ela fala um pouco sobre o Keyakizaka46. Foi a primeira entrevista em que ela de fato se abriu um pouco sobre o tema, coisa que ela não fez totalmente desde que saiu do grupo. Eu entendo completamente os motivos, mas não posso negar a curiosidade.
Então aqui acho que vale citar uma outra entrevista - a dada poucos meses antes na Rockin' On Japan. Esse link é para a tradução em inglês - eu não vou traduzir ela por completo (ao menos não agora), e sim apenas a parte que toca o assunto, que é um trecho bem pequeno. Ela fala um pouco sobre o (então) vindouro documentário "Bokutachi no Uso to Shinjitsu: Documentary of Keyakizaka46" ("Nossas Mentiras e Verdades").
Segue o trecho:
--
![]() |
ROCKIN' ON JAPAN - EDIÇÃO OUTUBRO 2020 |
Além disso, no dia 4 de Setembro o documentário "Nossas Mentiras e Verdades" vai estreiar. Esse documentário é provávelmente a última chance de ver você como parte do Keyakizaka46.
Isso mesmo. Esse documentário, eu estive pensando "Se eu for perguntada sobre em algum entrevista, eu gostaria de dizer o que penso". Eu peço desculpas, mas eu poderia usar essa entrevista no ROJ como uma oportunidade de falar?
Claro.
Para ser bem direta, eu não disse sequer uma palavra nessa obra. Já que ele documenta meu período como membro do Keyakizaka, meu canto e minha figura performática, assim como minhas palavras e ações serão mostradas. Acho que isso vai levar a diversas opiniões. Independente disso, eu espero que ninguém ataque aqueles que sempre deram suporte a alguém como eu, como meu manger, Akimoto-san, maquiadores e membros do staff que eu confio. Do contrário, isso me machucaria muito. Certo, então, eu espero que as pessoas não vão acreditar que todas as coisas mostradas e ditas nessa obra são verdade. Como esperado, é bem difícil pra mim comunicar todas as histórias desses cinco anos. Não pense que tudo está lá, porque muitas outras coisas aconteceram... Recentemente, conversando como manager, eu também disse que "Eu espero que haja um dia que eu vou poder dizer tudo".
Isso é o que eu estou pensando também. Seria bom se isso acontecesse algum dia. Quando esse dia chegar, você definitivamente vai estar mais confiante em si mesma. Agora, você não deve estar no clima de falar sobre.
Apesar de eu não saber quando será, eu não acho que eu vou "ficar calada para sempre". Não importa que tipo de obra, mesmo documentários, são glorificados. Além disso, o título "Nossas Mentiras e Verdades" não foi proposto pelo Akimoto, então tem algumas dúvidas sobre isso. Eu ficaria bem triste que se os espectadores pensassem que tudo que foi mostrado até hoje foi uma mentira, e apenas o que é mostrado no documentário é verdade. Mas algumas pessoas devem dizer "Então Hirate, você deveria falar". Para ser honesta, agora não é um bom momento, além de que também tenho motivos em um nível espiritual. Eu peço desculpas e por dentro estou me sentindo culpada. Mas eu ainda tenho esperança que as pessoas não vão pensar que apenas o conteúdo presente no documentário é toda a verdade.
--
Eu gosto muito de ler entrevistas escritas, mas elas sempre carregam o defeito de que palavras não tem tonalidade. Não é atoa que geralmente os que conseguem expressar tom com elas são tão reconhecidos. Nessa parte da entrevista, a Hirate parece um tanto áspera.
Talvez baseado nisso, a analogia do "intercâmbio" faça até mais sentido. Ela mostra um respeito grande por aqueles que apoiaram ela, mas nesse primeiro momento ela não cita os membros, aqueles que tem contato mais direto com ela - ao menos aos nossos olhos. Eles são endereçados nessa entrevista no Sugar & Sugar mais adiante, mas por um tempo parecia que de fato ela nunca tinha se conectado com eles - e acho que por isso ela mesma entende a analogia. Um intercambista, em um lugar desconhecido e sem saber o idioma para se comunicar com os outros, quase como um gatinho assustado, com medo até de ligar a TV e não entender as notícias.
Também é bem compreensível o medo dela de ser mal entendida o tempo todo. Apesar de ser bastante admirada, qualquer figura que monopolize atenção em grupos de idol acaba recebendo hate em algum momento. Acho que nos 46/48 tivemos três exemplos que chegaram perto ou ultrapassaram: Maeda Atsuko, Ikoma Rina e Matsui Jurina. As três em algum momento receberam alguma animosidade externa por serem sempre a face do grupo.
O caso da Ikoma é talvez o mais diferente, mas é o caso que nós podemos comparar, porque mesmo tendo os cinco primeiros centers do grupo, ela nunca chegou a ser o membro mais popular, e ela seguiu recebendo comentários maldosos mesmo anos depois dessa situação dos cinco centers seguidos no começo do Nogizaka46 - como seria para a Techi? É bem difícil imaginar um cenário onde isso daria certo. O cenário da Ikoma em algum momento levou ela para o fundo da formação, e até uma passagem pelo AKB48.
Talvez em dominância a Jurina seja a mais comparável, mas como ela se cercou de outras polêmicas (como o SSK com a Sakura, os problemas com a Matsui Rena etc) é difícil dizer o que vinha do permacenter e o que vinha das polêmicas.
YG: É divertido? Nada divertido?
TE: Eh, de alguma forma...
YG: Muito frenético?
TE: Isso mesmo, tem sido sempre
desse jeito.
YG: Você virou center desde o começo?
TE: Sim, desde o começo.
YG: O que você sente quando te dizer que você vai ser center? Você
se sente tipo "Ah, chegou a hora!"
TE: Não, de jeito nenhum. Eu me
pergunto o que eu pensei. Mas sério, eu não fiquei feliz ou tipo
"uhull" não.
A resposta não deixa muito claro se ela já achou isso desde a primeira vez, mas é bem possível que sim. Se você lembrar que poucos minutos atrás ela estava falando de não ter habilidade nenhuma, faz ainda mais sentido que ela achasse isso no princípio.
YG: Você sente que sua responsabilidade cresceu?
TE: Isso mesmo... e bem... mais ou
menos...me pergunto o que eu deveria dizer.
TE: Já que eu era uma
"idol"... é natural que a pessoa que está como center tenha...
TE: Como vou dizer, várias
habilidades para ficar lá...E também, você precisa ser amado pelos membros e
pessoas que assistem... e você precisa ter um certo charme.
YG: Você precisa ter o "rosto" certo
TE: É impossível se eu não tiver
essa habilidade... então "Por que eu?", eu só tenho perguntas.
YG: Então, pra isso... você não compreende?
TE: Eu não.
TE: Eu sempre disse ao produtor que
eu não queria fazer
YG: É um sentimento de modéstia? Ou é o seu sentimento sincero de
achar que você não consegue?
TE: É o meu sentimento sincero.
YG: Mas, quando você tem que fazer, não outro jeito que não seja
fazer, não é?
TE: Sim, se foi decidido, então eu
quero fazer direito. Eu realmente queria entrar a músicas, esse sentimento é
bem forte. Então eu fiz...
Todos já suspeitavam que a Techi não gostava muito de ser a center. Ela realmente entrou em hiato do grupo porque não se sentia confortável de ser a única a ter destaque - essa cena está no documentário, em um momento onde ela é bem cuidadosa com as palavras para não parecer que estava abandonando o grupo.
Como sabemos, essa estratégia não deu certo - já que ela foi center de Garasu wo Ware ao retornar do hiato. Consegue imaginar? Você sai para dar chance aos outros, mas te esperam voltar e te dão novamente o holofote que você não quer.
O que talvez seja novidade é ver que ela não apenas não gostava de se destacar por ser a única, mas por não sentir que era qualificada para isso. Aqui é onde a gente diverge é claro, todo mundo sabe que ela foi uma ótima center. Você pode achar que dar oito seguidos foi uma estratégia errada, mas ela era qualificada, sem dúvida. Essa síndrome de impostor pode ainda assim ser legítima, é comum pessoas qualificadas não se sentirem qualificadas - e esse é o caso.
Ela talvez não se enxergasse da forma que ela via aquelas que levaram ela a ser idol. No omitatekai (evento da apresentação de uma geração) ela disse que queria ser uma idol como a Ikoma Rina e Shiraishi Mai. Tendo esses exemplos, talvez faça sentido se sentir desqualificada, não por ser pior, mas por ser tão diferente delas. A Ikoma apesar de muito criticada como center, tinha um carisma e energia infinitos, enquanto a Shiraishi foi por muito tempo a personificação da palavra "beleza" entre as idols (e até pessoas em geral).
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"Eu não me tornei uma idol para ser mimada. Eu fiz a audição para me tornar uma idol para dar coragem as pessoas como a Ikoma-san ou a Shiraishi-san!" |
Talvez a dificuldade maior tenha sido entender o que as pessoas viam nela. Eu entendo completamente ela "só ter perguntas" sobre isso. Os parâmetros eram realmente outros - e ela estabeleceu um padrão bem alto pra ela mesma.
YG: Está cansada? Do balanço?
TE: Não se preocupe.
YG: Tudo bem?
TE: Ah, mas posso sentar no chão?
YG: Sem problema...
YG: Quer água?
TE: Ah, sim.
-- PARTE 2
-- No caso de Hirate Yurina --
YG: Eh... de alguma forma, isso é ótimo
TE: Ah, tá tudo bem
YG: Não, não. Assim é confortável para mim também.
TE: Eu estou mais confortável desse
jeito também.
YG: Isso é divertido.
TE: Sim, de alguma forma.
Ah, o super poder do Ichiro é realmente ler a situação. Ficaria muito constrangedor se ela ficasse sentada no chão e ele no balanço.
YG: Eu não esperava que seria assim.
TE: Você se disfarça quando você
sai?
TE: Ah, mas só com máscara.
YG Você já foi pega?
TE: Se eu fizer contato visual, eu
certamente serei pega
YG: Então... Você vai ser pega mesmo se não fizer contato visual
YG: Talvez só você não tenha percebido. Que as pessoas perceberam.
-- As pessoas notam quando você sai? --
TE: Hein? Eu me pergunto se tem
mesmo... eu não tenho certeza. É por isso que...
TE: Ou eu olho pra abaixo o máximo
possível ou... Mas então quando eu olho muito pra baixo, fica bem óbvio as
vezes
TE: É por isso que... de alguma
forma, eu meio que dou a impressão de "aura feliz"
YG: Pelo contrário, as pessoas não notam isso, hein
TE: Eles não me notam mesmo...sério
YG: Entendi
TE: De alguma forma... Quando parece
que eu estou me divertindo
TE: Eu não serei descoberta... eu
fico tão alegre quanto quando eu estou pulando
YG: Se alguma coisa, isso parece assustador. Isso não fica óbvio?
Pelo contrário.
TE: Isso mesmo
YG: Entendi
Assim como na primeira parte, ele começa com um assunto casual. Acho divertido, como sempre. Essas coisas que vem com a fama, como a falta de privacidade e a necessidade de sempre estar tentando se esconder - mesmo quando claramente não se está fazendo um bom trabalho de esconder.
Sério, ela realmente subestima o quão conhecida e distinguível ela é. Interessante que ela fique feliz tentando se esconder como se fosse um jogo - "Ah, passei sem ninguém perceber que eu sou famosa!"
TE: Porque eu realmente não mostro
para o mundo o meu lado falador desse jeito
YG: Compreensível
TE: Então talvez, eu acho que é
porque eu tenha essa imagem pública tão forte
YG: Isso é verdade...Certamente por causa das músicas, músicas que
você vem cantando e tudo... por que sua visão de mundo é perfeita.
TE: Isso mesmo.
YG: Todos são levados a essa conclusão, certo?
TE: Sim
YG: Mas é punk, não é? Sério
-- Punk na cena idol --
YG: Musicalmente falando, eu vou dizer que é punk.
TE: Eh... parece dessa forma?
YG: Eu digo... eu acho que é um "contra" no mundo idol.
TE: Me pergunto quando a isso...
YG: De alguma forma parece que você vai quebrar tudo...Meio que um
"Faça! Faça!"
TE: É mesmo
YG: "Vamos lá! Vamos lá! ou pelo menos eu pensava assim"
YG: Você tem autoconsciência como idol?
TE: Nenhuma
Esse é um trecho importante, porque ele fala de como a maioria das pessoas veem a Techi. Como eu já comentei anteriormente, ela frequentemente parece deslocada, e isso certamente é difícil pra ela. Para os fãs isso tem um apelo interessante, e principalmente pra quem talvez não fosse tão engajado na cultura idol. Dentro desse contexto a analogia com "punk" faz total sentido, uma coisa estranha no meio de um cenário tão familiar.
Essa "falta de autoconsciência como idol" é parte disso. Acho que é válido dizer que a Techi foi uma das maiores recrutadoras de fãs nos últimos anos, muita gente que não era chegado em idol ou via como algo esquisito deu uma chance por causa dela. Sim, estou dizendo que a Hirate foi a porta de entrada para drogas mais pesadas.
-- Autoconsciência como idol --
YG: Afinal, de certa forma, você ainda é um tipo de músico, certo?
YG: Na sua mente. Consciência como cantora?
TE: Me pergunto...hm...Mas, mais ou
menos, porque uma idol é uma idol
TE: Eu disse isso mas... Mas coisas
que eu faço, que eu canto, o jeito que eu me expresso
TE: Eu fiz coisas que uma idol
normal não faria Isso pode ter sido uma coisa boa, mas...
TE Para as pessoas que imaginaram
uma imagem de idol normal
TE: Eu me pergunto...talvez pareça
que falta algo, "Não, não é assim". Teve um tanto de coisas assim.
YG: Pelo lado contrário, também teve bastante gente que te deu
suporte quando a isso, certo?
YG: Desse tipo, por não ser uma idol normal.
TE: Eu tenho certeza que tem. É por
isso que eu queria mirar nessa direção, e as vezes de um bom jeito
TE: Tipo... nós cantávamos músicas
meio rock... mas no próximo single, é uma música mais estilo idol
TE: Mas de alguma forma, ainda tinha
algo que mantinha a identidade do grupo. Todas as vezes, de um jeito bom, eu tinha
um sentimento forte de "vontade de trair"
Esse é o trecho que fala mais diretamente o que passa na cabeça dela, o que ela sempre imaginou pela palavra "idol". O Ichiro dá o tom certo quando ele diz que esse lado diferente foi o que deu a ela esse status atual.
Não tenho muito o que comentar sobre o que é ser uma "idol" porque esse termo significa o que você quiser. Momoe Yamaguchi, a idol a qual a Techi sempre foi comparada, não era bem reconhecida como uma "idol" no seu tempo, porque esse termo mal existia. Entretanto, ela e os que cercavam ela fizeram quase todas as fundações do que se veio a chamar de idol eventualmente. Isso não significa que ela mesma se enxergasse dessa forma - ela muito provavelmente se via apenas como uma cantora.
O que eu quero dizer, resumidamente, é que esse termo significa o que é conveniente. Para mim a Techi era sem dúvida uma idol, mas faz sentido se ela não quiser se considerar uma. Não tem uma definição riscada em pedra.
YG: Mas a parte misteriosa disso é que... você está em um grupo,
certo?
TE: Sim
YG: Isso é amor pelo grupo? Ou é esse "amor criativo" que
você tem?
TE: Era pelo grupo. De certa forma,
mais que por mim mesma. Eu estava sempre pensando como o grupo se apresentava e
como era visto.
YG: Então para mim, é como uma banda
TE: Ah, eu acho que sim
YG: O que você achava dos membros do grupo? Você amava eles?
TE: Ah, totalmente... eu me pergunto
o que é...
-- O que você achava dos membros do grupo? --
TE: Eu sabia que eu não podia fazer nada por conta própria. Eu acho que eles eram muito preciosos pra mim
Se alguém se preocupava com isso, eu não tinha muitas dúvidas que a Techi amava os membros. Eu acredito que possam existir algumas relações que sejam mais verdadeiras na frente das câmeras do que nos camarins, mas nunca me pareceu o caso. Sempre pareceu bem sincero, embora ela fosse uma pessoa com claras dificuldades em se conectar, ela parecia sempre muito apegada e todos pareciam gostar muito dela.
Acho que foi uma decepção dos dois lados quando essa relação se deteriorou. Não acho que ninguém guardou magoa dela no longo prazo porque todo mundo conheceu ela bem de perto. Ao menos o tão perto quanto ela era capaz de permitir.
YG: Com aquele tanto de membros, como era no camarim?
TE: O camarim é uma sala enorme
YG: E todas estão lá?
TE: Sim, todo mundo.
TE: Basicamente, eu não ficava muito
tempo no camarim. Eu ficava no lado de fora ou no canto, ou no fundo da sala,
ou em outra sala.
TE: Ou vagava pela emissora de TV,
ou dava uma volta
YG: E por que isso? Você não era muito boa em se misturar?
TE: Hm, isso mesmo. Talvez eu não
seja muito boa em estar no camarim.
YG: Tenho certezas que teve momentos em que foi difícil
-- O que você fazia quando ficava difícil --
TE: Certamente
TE: De qualquer forma, eu tenho
outra escolha que não seja enfrentar a mim mesma
TE: E de certa forma... eu não tenho
a solução nem nada
YG: Quais são seus hobbies? Ou jeito de aliviar o estresse?
TE: Eu não tenho nenhum.
YG: Você não tem nenhum hobby?
TE: Eu não tenho um
YG: Tem algo que você goste de fazer?
TE: Eu não
YG: Então... você tem atravessado essa jornada toda sem um jeito de
aliviar?
TE: Sim
YG: Sabe, tipo ligar para sua família ou amigos
TE: Também não
YG: Então ao invés de superar, você apenas queria acabar com isso
TE: Ah, talvez essa seja uma palavra
melhor
TE: Você tem algum hobby?
YG: Pescaria. Eu amo pescar. Pescaria, Chunichi Dragon e música.
YG: Eu sempre amei essas três coisas desde que eu estava no
fundamental.
TE: Desde o fundamental?
YG: E literatura também. Eu também gosto de livros.
Ela já havia comentando em algum lugar antes que não tinha nenhum hobbie, mas ninguém achava que fosse tão literal. Assim como o Ichiro eu me pergunto o que ela faz para escapar um pouco, para se distrair. Essa é uma curiosidade que permanece - como alguém que quer sempre fazer direito, se dedicar tanto ao trabalho parece ser uma regra... mas não sei se é muito saudável.
Provavelmente não.
TE: Você gosta de chuva?
YG: Eu amo.
TE: Ah, eu também.
Eu gosto também, hein.
YG: Eu venho escrevendo muitas músicas sobre a chuva.
TE: Ah, sério?
YG: E eu acho que a chuva me ama.
TE: Eh?
YG: Eu sou o ame-otoko [homem-chuva]
TE: Então é isso?
YG: Só chove quando eu saio.
YG: Tem uma boa chance que chova nos festivais que a gente se
apresenta.
TE: Eh... entendi.
YG: Eu já sou um super homem-chuva.
TE: Pra mim... eu gosto de chuva, eu
sou uma hare-onna [garota do tempo limpo]
YG: Ah, não chove?
TE: Isso mesmo
![]() |
Hare-Onna? Isso explica o comercial no meio do deserto. |
YG: Você se sente sozinha?
TE: Sozinha...
-- Solitário Solidão --
YG: Ou solitária...
Aqui eles diferenciam "ser solitário" de "ser sozinho", sendo que o primeiro é o sentimento e o segundo uma condição. O primeiro não depende de você estar cercado de gente.
TE: Ah, sim.
TE: Mas uma vez me disseram para me
acostumar com ser solitária.
TE: Desde que me disseram que
estamos todos sozinhos, eu tenho tentando pensar desse jeito o máximo possível.
Eu lembro de ter lido uma entrevista da Seiko Matsuda falando a mesma coisa, na época que ela apareceu no filme Ramen Teh. Um tanto mais triste no caso dela que perdeu a filha recentemente.
Me pergunto se isso é tão comum entre artistas - se acostumar a se sentir solitário mesmo cercado de tanta gente.
YG: De alguma forma, isso é algo que minha mãe me disse
YG: Eu não tinha quem simpatizasse com o que eu estava
fazendo...Especial na indústria musical e tudo.
YG: Teve um momento que eu disse "Eu quero fazer isso" ou
"Eu quero fazer desse jeito", mas ninguém aprovava.
YG: E a minha mãe... eu não costumo falar com ela desse tipo de
coisa.
YG: Se eu disse algo tipo "Isso é o que eles falam de
mim"...Minha mãe ficava tipo "Não está tudo bem?"
YG: Ela disse "Pessoas que querem fazer coisas novas estão
sempre sozinhas"
YG: E adiciono "Mas isso não é estar 'sozinho'. Isso é ser
'solitário'.
-- Não sozinho, mas solitário --
YG: Ela me disse que há diferença entre estar sozinho e
solitário...Ela me disse "Você deveria pensar em si mesmo como
solitário"
YG: Eu me perguntei o que minha mãe estava falando...Mas eu fiquei
feliz de escutar aquilo
TE: Ah, solidão, não solitário.
YG: De alguma forma...é exatamente porque você está tentando fazer
algo. Você está ficando sozinha.
YG: Pense nisso como solitário, não sozinha.
YG: Você pode se sentir sozinha agora, mas eu tenho certeza que as
pessoas virão, desde que seja correto
YG: Afinal, sobre fazer o correto. Geralmente... você é uma
minoria, certo?
TE: Sim
YG: Mas se você estiver fazendo certo, vai ser mainstream algum
dia...Mesmo se você fizer algo que já é mainstream, tipo...algo a mais do que
já há...
YG: No final só vai desgastar... não há nada mais para ser
refinado.
YG: É por isso que, eu acho que é a mesma fragrância que eu senti
de você.
YG: Você não está desgastando isso, mas você está refinando
TE: Entendi
YG: É um desafio. Mais do que uma pessoa sozinha, eu acho que você
é solitária.
YG: Já é hora, não é?
TE: Sim, já é hora.
Sobre a entrevista no geral, acho que ela foi muito boa. Não seria fácil tirar alguma coisa dela sobre o grupo, e acho que talvez nem fosse o melhor momento para isso. Apesar disso, ele conseguiu extrair bastante riso dela, e algumas informações importantes. Eles transitaram bem nos assuntos leves e mais sérios, ela não parece sombria demais.
Sobre a Techi, eu admiro muito ela como artista, e fico muito intrigado como pessoa. Se eu tivesse que formar uma imagem dela baseada nessa entrevista, seria de a uma pessoa que eu comparo a um carro "sem neutro", onde cada marcha seria um sentimento diferente - é como se ela fosse de um para o outro muito rápido, sem ter um estado "neutro" entre elas. Nessa entrevista, ela tenta parecer alegre a maior parte do tempo - foi a vez que vimos ela rindo mais em muito tempo até então - mas os outros sentimentos também escapam.
Fica também o elogio a ótima condução do Ichiro - tirou coisas interessantes dela, manteve o clima bem agradável e deu conselhos bem adultos para ela sem parecer um velho falando pra uma criança.
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Obrigado por ler.