SARD UNDERGROUND - As Composições de Izumi Sakai (ZARD)


Sendo bem honesto, inicialmente esse texto era sobre o álbum "TODAY IS ANOTHER DAY" do ZARD, que é um CD bem significativo na história do grupo. Eu tenho tido um pouco de dificuldade para escrever, porque gosto de pesquisar o máximo possível - geralmente a maior parte das coisas acaba nem entrando no texto - e isso muitas vezes me deixa insatisfeito com a escrita. É nesse período que a maioria do textos morrem.

Quando vou escrever sobre um álbum ou single, eu costumo seguir no geral uma sequência bem mal estruturada. Eu começo a ouvir o disco em questão enquanto começo a definir os tópicos de pesquisa - as vezes de coisas que já tenho em mente, outras enquanto as músicas vão passando.

Eu comento de coisas que já ouvi anteriormente, mas mesmo essa primeira vez não é a que eu de fato presto atenção na música. No caso de discos que eu tenho fisicamente o CD, eu escuto ele em um CD Player que eu tenho, com um fone razoavelmente melhor do que eu uso no computador - que é mais pra conversar e jogar (não que eu venha fazendo muito isso ultimamente).

Claro, como eu disse, essa sequência é bem mal estruturada. As coisas acontecem conforme elas acontecem. Acho que deu pra entender.

Durante a pesquisa sobre o disco, e com o artigo já cerca de 2/3 pronto, eu acabei caindo no álbum tributo do grupo SARD UNDERGROUND. Eu já era familiar com o grupo, principalmente através do YouTube e do primeiro álbum ("ZARD tribute"), mas havia algo interessante para desvendar na discografia do grupo.

Um grupo interessante e um pouco diferente.

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O SARD UNDERGROUND, como você deve imaginar, é um grupo cover do ZARD. Meio óbvio, né. Apesar do ZARD ser extremamente associado a uma única pessoa, Izumi Sakai, ele era de fato um grupo com outros músicos em certos momentos da sua história. Isso é especialmente verdade até o terceiro álbum "Hold Me" de 1992.

Bom, mas o que tem de interessante em uma banda cover afinal? Tenho o mais profundo respeito pelas bandas covers, é um trabalho honesto e geralmente feito com bastante carinho por quem costuma ter apreço pelo material original, mas não é o lugar onde você vai esperando por novidades. Na verdade, é até mal visto usar o nome de outra banda pra divulgar algum material original seu.

O caso do SARD é um tanto diferente. O grupo foi formado por Daiko Nagato, um produtor de bastante sucesso, com muitos artistas populares na lista - dentre eles: Boowy, B'z, Garnet Crow e Mai Kuraki. Dá pra ter uma noção pelo tamanho dos artistas.

E claro, o ZARD original também.

Talvez essa seja a pergunta fundamental de tudo isso: existe algum objetivo além de simplesmente homenagear o ZARD?

A resposta para essa pergunta é: sim, existe um motivo além desse. Vamos tentar chegar até ele.

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O SARD UNDERGROUND é primariamente um grupo de covers do ZARD original. O grupo é relativamente popular no YouTube, e tem apresentado o ZARD para um público mais novo. 

Musicalmente falando, todas as músicas lançadas nos álbuns de tributo são rearranjadas, com uma sonoridade mais moderna, mas com bastante respeito a sonoridade original. Aqui é onde ter alguém que foi envolvido com o original se torna bem importante. Há sempre uma sensação de arranjos novos com uma sonoridade diferente - mas a original está sempre lá, nunca desfigurada por completo.

Os vocais da Izumi eram bem característicos, e a vocalista do grupo (Yua Shinno) não tenta forçar similaridade. A voz dela é bem bonita também, e tem um bom encaixe com as músicas, mas ela nunca tentar ser a Sakai de fato - embora a influência seja bem visível no alcance vocal e estilo.

Se você quer começar a ouvir eu recomendo começar, realmente, pelo começo - o primeiro disco de tributo "Zard tribute" é um bom ponto de partida. Ele tem não só os maiores hits do ZARD, mas ele bem próximo, em estilo musical, dos posteriores.

Mas bem, ainda assim, não é aqui que a resposta para a pergunta proposta um pouco mais acima está.

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Izumi Sakai faleceu em 2007. Ela vinha sofrendo com problemas em seu útero desde 2001 (possivelmente até antes), e apesar de tratamentos bem sucedidos a princípio, a condição evoluiu para um câncer em 2006. Novamente, após resultados satisfatórios no tratamento inicial, o câncer se espalhou para o seu pulmão, configurando um câncer de estágio quatro, 

Apesar disso, é atestado por algumas fontes que Izumi nunca pareceu abatida com sua condição, sendo bem gentil com outros pacientes e se mostrando animada a voltar a gravar o quanto antes após sair do hospital.

Trágico como o destino é, Izumi não faleceu devido ao câncer que enfrentava. Ela faleceu após cair de uma sacada do hospital onde se tratava, de cerca de três metros de altura, possivelmente devido ao chão escorregadio deixado pela chuva. Ela não recobrou a consciência após a queda e veio a falecer no dia seguinte.

Peço desculpas pela história trágica que você poderia ter lido mais detalhadamente na Wikipédia, mas ela é vital para entendermos a questão que me propus a responder. Porque é aqui que o motivo da existência do SARD UNDERGROUND fica um pouco mais claro e com um propósito bem mais interessante do que uma simples banda cover.

Izumi era bem prolífica artisticamente. Ela escrevia poesia, pintava quadros, escrevia letras para outros artistas e também tocava instrumentos como piano. Izumi era bastante ativa no período, e sua vontade de voltar aos estúdios o quanto antes deixava bem claro que ela já tinha algo em mente. Hoje sabemos, de fato, que Izumi deixou material inacabado e/ou alguns simplesmente não lançados.

Izumi Sakai em umas das milhares de fotos dela no estúdio

A resposta da existência do SARD UNDERGROUND está dentro das linhas do  paragráfo anterior : o grupo foi encarregado de produzir e lançar esse material deixado por Izumi e seus colaboradores. 

E isso de fato aconteceu.

E é deles que vou comentar. Específicamente.

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SUKOSHI ZUTSU SUKOSHI ZUTSU (10/02/2020)


Tracklist

1 - Sukoshi Zutsu Sukoshi

2 - Ai wa Kurayami no Naka de

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- SUKOSHI ZUTSU SUKOSHI ZUTSU

Após o lançamento do primeiro disco de tributo em 2019, o grupo foi encarregado pela primeira vez de dar continuidade a um dos trabalhos de Sakai.

A letra de "Sukoshi Zutsu Sukoshi Zutsu" é de autoria de Izumi Sakai, enquanto a composição da melodia da música é da sua frequente colaboradora Aika Ohno.

Ela foi usada como um encerramento do anime Meitantei Conan (Detetive Conan), no qual várias músicas do ZARD foram utilizadas diversas vezes. Inclusive algumas das últimas músicas de Sakai, como "Glorious Mind" foram usadas como abertura de Conan. "Tsubasa wo Hirogete" também foi usada no filme Senritsu no Furu Sokoa (em inglês o título é "Full Score of Fear", eu não faço ideia de como traduzir isso decentemente).

Por isso, além da significância de dar sequência a um trabalho original da Sakai, o grupo de fato estava em uma posição em que o próprio grupo original esteve em muitas ocasiões, e a qual Sakai é bastante associada também. Talvez seja um caso um quanto único - um grupo cover, produzido por um dos produtores originais e que assumiu diretamente uma posição que o grupo original esteve em diversos momentos. É até difícil de acreditar.

Musicalmente, a música se sai bem. O ZARD sempre teve a sensação de uma calça gelada em um sábado de manhã nas suas músicas mais melancólicas (isso foi um elogio), e acho que o SARD consegue capturar razoavelmente bem essa sensação. Como já mencionei anteriormente, a vocalista em nenhum momento tentar parecer a Izumi Sakai cantando. Ela não tenta alcançar as mesmas notas e nem tenta adicionar uma melancolia que sua voz não possui.

Talvez o ponto alto seja de fato o instrumental da música. Os álbuns finais do ZARD realmente lembram muito a sonoridade dessa música, e acho que ela é bem gostosa de ouvir - e mesmo que siga o fio condutor já estabelecido, ela soa bem atual. O que eu digo é que não parece uma música atual que tenta emular coisas do passado.

Como comentado anteriormente, a música foi usada como sextagésimo primeiro encerramento do anime de Metantei Conan. A Izumi tem muitas contribuições em animes (Dragon Ball GT, Slam Dunk e Conan, para citar alguns) - e tecnicamente essa é mais uma pra conta.  

- AI WA KURAYAMI NO NAKA DE

Essa música é um cover de uma música do ZARD, mas é especificamente um cover da segunda versão da música.

A versão original é do disco "Good-Bye My Loneliness" de 1991. Embora também tivesse um estilo rock, ela tinha mais arranjos com influência eletrônica e um pouco de techno. A versão que mais tarde foi usada na abertura do anime de Meitantei Conan foi lançada em 2008 - com participação da cantora Aya Kamiki [Nota 1]. Essa versão abandona qualquer influência de música eletrônica e é completamente metal.

Por outro lado a versão original de 1991 já é uma versão baseada na música de outro grupo, o Blizard e sua música "Empty Days". Então trata-se de um cover, do cover rearranjado. 


A própria Aya Kamiki também tem uma versão solo dessa da música.

A versão do SARD UNDERGROUND também é bacana, embora talvez seja a menos legal dentre todas as essas versões citadas. Os arranjos acabam tentando encontrar uma versão atualizada da última versão do ZARD, e acho que acaba ficando pelo caminho. A versão de 2008 já eram bem atual eu diria. Vamos lá, todo mundo gosta da guitarra fritando nessa música, alguns estilos precisam de menos atualizações que outros.

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KORE KARA NO KIMI NI KAMPAI (03/06/2020)


Tracklist

1 - Kore Kara no Kimi Ni Kampai

2 - Kakegae no Nai Mono

3 -Sayonara wa Ima mo Kono Mune ni Imasu 

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KORE KARA NO KIMI NI KAMPAI

O próximo single do SARD UNDERGROUND deu continuidade nas adaptações dos trabalhos deixados por Sakai. Ela assina a letra das três músicas, mas apenas uma é novidade, "Kore Kara no Kimi ni Kampai", faixa título do single.

Talvez, de todos as músicas do SARD escritas pela Izumi, essa seja de fato a com mais vestígios da sonoridade original (tirando obviamente os covers). Claro, a voz de Yua não tenta imitá-la, mas em alguns momentos elas se interceptam nas subidas das notas - principalmente nas saídas para o refrão e o refrão em si.

A parte lírica me deixa um pouco intrigado, porque é difícil traçar exatamente em que momento essa letra foi escrita. As letras escritas pela Izumi foram mudando com o tempo, o que é bem natural pra qualquer. Em certos momentos, alguns temas eram mais recorrentes do que outros - solidão, amizade, fracasso e determinação aparecem com mais frequência em certos momentos do que em outros, mas obviamente não é um padrão fácil de determinar.

Essa música passa por alguns desses, como por exemplo:

"Mesmo que  perca confiança e comece a não gostar de si mesmo,

Nunca desista.

Dispense esse sentimento de pena"

Esse verso poderia facilmente estar em Makenaide ou em qualquer um dos dois primeiros álbuns. Em outros versos a música não é muito diferente de outras músicas de romance, que também é algo que aparece as vezes na discografia do ZARD, embora com um pouco mais de nuance.

Isso me leva a uma última questão, que vou abordar no final do texto - menos a ver com música e talvez mais relacionado a ética.

Voltando a música - eu gosto bastante do instrumental também. A guitarra especificamente me parece bem remanescente das músicas antigas do grupo. Acho que o produtor entende que nem tudo precisa ser rearranjado. 

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KAKEGAE NO NAI MONO

Na música anterior comentei sobre algumas músicas de amor terem mais nuance do que outras, dependendo de quando elas foram escritas. A letra de "Kakegae no Nai Mono" tem mais nuance e expressão do que a anterior. Não por coincidência, essa música é um cover do single do ZARD lançado em 2004.

Até por isso, o vocal da música é um tanto mais tocante e gosto da escolha feita pra essa música. Acho que combinou bastante com o tema da música:

"Nós perdemos contato por um tempo,

Mas por coincidência, nos encontramos de novo

Me sinto aliviada, seu sorriso não mudou

[...]

De repente, me sinto sozinha

Antes de sair de casa

Ainda sou a mesma de sempre"

A música fala sobre como, apesar da distância e do tempo, os dois continuam sendo basicamente os mesmos de sempre. E isso significa, ao menos na minha interpretação, que se ele era insubstituível antes, ele continua sendo insubstituível agora.

Os novos instrumentais são, novamente, agradáveis. 

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- SAYONARA WA IMA MO KONO MUNE NI IMASU

Esse cover talvez tenha sido um dos que mais se aproximou da sonoridade original do grupo, e acho que muito passa pela escolha dos estilos musicais. Tenho a impressão que as vocalistas do SARD se saem melhor nas baladas (no sentido musical) e músicas mais sentimentais, do que nas músicas mais aceleradas.

Sendo justo, a Izumi também se saia melhor nelas - mas a média era consideravelmente alta, então as outras também eram muito boas. Por isso, acho que a produção sabia bem como trabalhar melhor as canções.

A letra é um pouco mais platônica, com um toque bem comum na escrita da Sakai, da emendar solidão e relacionamentos como uma coisa inseparável. Nessa música temos trechos como:

"O adeus segue em meu coração

Eu sempre finjo sorrir

Mas todo verão, este coração dói"

Na música anterior, temos um trecho sobre se manter a mesma pessoa de sempre, mesmo que o tempo os separe, pois assim você seguirá insubstituível. Essa música, mas uma vez faz menção a esse tema, e coloca como importante se manter a mesma pessoa do passado:

"As memórias de caminhar com você

Agora, estou refazendo este caminho

[...]

Por favor, seja o mesmo do nosso primeiro encontro

Os momentos bons e os momentos dolorosos"

A melodia da música também combina com a letra da música - não me parece uma história de melancolia, mas uma história de seguir em frente, mesmo com tantas ligações com o passado.

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NATSU NO KOI WA ITSUMO DRAMATIC (12/05/2021)


O próximo single que contém uma música assinada por Izumi Sakai é "Natsu no Koi wa Itsumo Dramatic", lançado como single digital.
A música tem uma bateria bem marcada - e embora isso seja uma coisa que você encontra em músicas do ZARD em certos momentos, aqui acho que ela dita um pouco demais o ritmo da música. Infelizmente, acho que essa música talvez seja uma das que mais chega próximo de cair por terra, porque ela é bem, digamos, plena.

Acho que dá pra entender de onde bem isso - é uma música com uma letra sobre amor de verão. Por isso, ela ser ritmada dessa maneira faz sentido - é só que não é muito legal mesmo. Se há algo realmente bom nessa música é que o vocal é bem gostoso de ouvir - há algo doce nele, mas não excessivamente, o que condiz com a letra da música.

A letra mistura o tema de amor de verão com um certo tom de lirísmo tão comum nas letras da Sakai. Acho que isso fica bem claro em versos como:

"Porque não tenho confiança, sou descuidada
Por se sentir sozinha, eu fico mau-humorada
Na sua frente, eu tento parecer alegre
Mas no fundo, eu sou uma chorona
[...]
Amor de verão é sempre dramático,
Como um por do sol cheio de lágrimas"


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O SARD UNDERGROUND tem outras músicas e singles, mas nesse post eu queria falar das adaptações das músicas escritas pela Izumi Sakai em específico. O grupo tem composições de outras pessoas - inclusive várias que trabalharam com a Izumi e o ZARD em vários momentos, inclusive compondo músicas para o grupo.

E no geral, eu digo que valem a pena - as vocalistas do SARD são bem talentosas. Não sei o quanto incomoda a elas o rótulo de ser um grupo "cover", mesmo que a essa altura algumas coisas já possam ser consideradas originais. O saldo é positivo no geral, mesmo nas coisas que eu possa não ter gostado tanto, musicalmente falando, dá pra sentir um cuidado e respeito muito grande pelo legado do original.

Talvez o maior símbolo de respeito seja, de fato, não tentar ser o ZARD em nenhum momento.

Antes da última parte, algumas coisas legais de comentar:

Capas de' "ZARD Tribute II" e "ZARD BEST ~Request Memorial~

As capas do SARD também costumam fazer referências a outras capas do ZARD. Isso é bem óbvio para algumas, já que algumas são praticamente reproduções quase um pra um (como a imagem acima). Outras fazem fazem referência de forma um pouco mais sutis, mas bem óbvias para fãs:

Capas de "Black Coffe" e "ZARD BEST The Single Collection 軌跡"

O avião usado na foto da coletânea de single do ZARD é bem icônico e posso falar com certa propriedade que muita gente começou a ouvir o grupo por esse CD em específico. Por isso, o hidroavião estacionado na areia faz uma breve aparição na capa de "Black Coffe". Há outras pequenas referências em outras capas, mas vou deixar essa pra vocês depois de conhecerem os grupos.

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ÉTICA

Uma coisa bem marcante quando falamos de seres humanos é que nós somos bem mais parecidos do costumamos pensar. É uma observação bem interessante, embora valores e hábitos se alterem com o tempo e dentro de contextos específicos, diversos valores são amplamente compartilhados.

Parece uma declaração de maluco, já que os Sioux da América do Norte tem hábitos diferentes dos Brasileiros de Cuiabá. De fato, mas não vamos cair em território falacioso - não estamos falando de instituições ou de normas culturais, que já mudaram algumas dezenas de vezes ao longo da história.

Por exemplo, em geral, todos concordam que é melhor estar saudável do que estar doente. Talvez menos compartilhado ao longo da história, mas em geral bastante aceito hoje, é a ideia de que os que não possuem saúde (permanentemente ou momentaneamente) devem ser ajudados.

Um outro valor bastante compartilhado por povos humanos é de que aqueles que já partiram, merecem dignidade mesmo após a vida. Veja bem, nós construímos até pirâmides no meio do deserto. Pirâmides altíssimas. No meio do deserto.

Essa característica tão compartilhada nos leva a um ponto mais próximo do discutido aqui, mas que há bem menos concordância. O que se pode e não se pode fazer com as coisas e o legado deixado por aqueles que já se foram?


Izumi, como comentado, faleceu em 2007. Algumas coisas foram feitas na sequência de sua morte, como a turne "What a Beautiful Moment" e o lançamento de "Tsubasa wo Hirogete", para o filme de Meitantei Conan. 

As coisas que seguem a partida de alguém, em geral são consideradas como homenagens. Uma despedida e homenagem, como no caso da turnê, que deixou seu microfone vago em meio ao palco e seu camarim arrumado conforme ela sempre pedia. A música de Conan também foi lançada em contexto similar, e pela proximidade de Sakai com a série ao longo dos anos - e assim como no caso do SARD, foi finalizada posteriormente, pois estava inacabada na data da morte de Izumi, embora os vocais já estivessem gravados.

O SARD Underground é um caso bem diferente. A banda passaria provavelmente despercebida se fosse só um cover ou tributo - afinal, covers de bandas inativas são bastante comuns e ninguém entende isso como algo detrimental ao legado de ninguém. A coisa muda um pouco de figura quando a associação passa a ser para além do legado musical.

O SARD utiliza dos símbolos, como o logo do grupo, de um frequentes contribuintes do grupo original (Daiko Nagato, Aika Ohno, entre outros), a sua gravadora Giza Studios é praticamente uma sucessora da antiga Being Inc. e principalmente das composições deixadas por Sakai. Como equacionar isso? 

Importante notar que eu iniciei essa sessão com a palavra "ética", porque a discussão não passa por nenhum conceito jurídico. Tenho plena certeza de que eles tem o total direito de usar os símbolos e as músicas, dentro da lei - se fosse pra dar problema, já teria dado faz um bom tempo.

O que talvez seja mais questionável é se é algo aceitável o grupo ser um sucessor, inclusive com composições da própria Sakai. Como sempre, a questão não tem uma resposta definitiva, mas acho que temos algumas pistas e trilhas para examinar.

Primeiro, não seria nada controverso se essa fosse claro, a vontade da própria pessoa. É difícil no caso de pessoas que falecem inesperadamente, como Sakai, que ela tenha dito algo sobre o tema, mesmo que sua condição fosse um tanto complicada com relação ao câncer. 



A pista nesse caso, é a vontade da própria Sakai em continuar trabalhando mesmo com sua doença em um estágio consideravelmente avançado. Há relatos de que ela pretendia voltar a gravar o quanto antes - inclusive escrevendo mesmo no hospital [Nota 2]. Sakai pretendia que esses trabalhos vissem o mundo - de que fossem de fato lançados em algum momento, não tivessem as coisas terminado daquela maneira.

Um bom contra-argumento é que, de fato, Sakai não pensava em morrer. Assim como há relatos de que ela pretendia gravar assim que voltasse para caso, há relatos de que ela em nenhum momento parecia entregue a doença ou falava de morrer. Nas mensagens enviadas aos membros do seu fã-clube ela mencionava não estar se sentindo bem, mas que estava fazendo o seu melhor para se recuperar [1]

Ela havia até melhorado um pouco com relação a quando ela retornou ao hospital, o que já devia ser motivo suficiente para otimismo por parte dela.

De fato, não há muita resposta para esse argumento. Nós não sabemos o que Izumi gostaria que fosse feito com seu legado e trabalhos incompletos, porque ela não pensava em morrer. Ao menos publicamente, isso jamais foi mencionado.

O que nos leva ao segundo ponto, que é a possibilidade de que isso foi feito de forma privada. Seja para amigos, colaboradores frequentes (como o próprio Daiko) ou para a família. Isso tudo, é claro, é pura especulação. Afinal, algumas pessoas especulam até hoje de que sua morte poderia ser um suicídio, o que é bastante improvável dadas as circunstâncias [2].

Isso significa que uma resposta definitiva é bem difícil, mas em geral acho que é bem mais plausível trabalhar com uma presunção de boas intenções. Mesmo que o SARD fosse de fato ruim (e não é) ainda assim nada disso mudaria o trabalho terminado e finalizado pela Sakai. Nas músicas é bem notável o respeito ao original, ao estilo e as composições, e com uma boa compreensão de que a Sakai era bem única da sua forma e não precisa ser imitada.

O SARD não tentar ser o ZARD, não tenta substitui-lo ou se proclamar seu sucessor, mas talvez tenha sido um último esforço de levar as composições da Sakai para o mundo, como ela gostaria de ter feito. Teria ela gostado de isso ter sido feito por outras pessoas, é algo difícil de dizer, mas pessoas nas quais ela já confiou várias vezes estiveram envolvidos com os projetos do SARD.


REFERÊNCIAS

[1] | [2]


Nota 1: Eu não poderia terminar o texto sem chamar a Aya Kamiki de "A Avril Lavigne Japonesa".

Nota 2: Existe uma foto de Izumi no hospital. Não há nada de gráfico nela, e ela aparentemente está com aparência normal, enquanto parece escrever (talvez compondo). Sendo bem sincero, eu não consegui atestar a autenticidade dessa foto e nem encontrei a revista em questão, embora a Friday seja  famosa. Por isso, não incorporei ela no texto - mas de qualquer forma, está ai a informação.


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Obrigado por ler





Essa imagem da Izumi jogando PS1, por outro lado, é 100% real.