Eu mencionei em algum post anterior que algumas coisas se perdem quando vemos apenas as artes do álbuns nos serviços de streaming e afins. Claro, em muitos casos é bem possível achar tudo bem digitalizado e ter algo mais próximo da experiência completa se você souber onde procurar.
Apesar disso, mesmo nesses casos, ainda há algumas coisas que se perdem. Nada disso influência na qualidade do álbum, mas é legal pelo lado do colecionismo e também em um lado artístico um pouco esquecido, de um período em que você tinha que primeiramente convencer as pessoas a gastarem o suado dinheiro com um CD ou LP.
Por isso, eu vou começar essa série pra comentar sobre alguns desses detalhes em CD's e algumas outras coisas que eu tenho em casa. Já mencionei antes, minha coleção não é tão grande, mas dá pra render algumas coisas interessantes.
Espero que seja proveitoso pra quem estiver lendo. Esse primeiro post vai ser bem um teste, por isso talvez ele não fique tão legal de primeira. Talvez não fique tão legal na quinta vez também.
Ah, um detalhe importante. As fotos foram tirada com meu celular, que já é um pouco antigo a essa altura, então as fotos não são tão boas. Dito isso, todas feitos por mim - para boa parte é bem possível achar boa parte do material por ai, embora nem sempre completo. Acho que não é o caso desse, que é bem famoso.
Eu não ligo que reutilizem as fotos, mas deixei o nome do blog nas imagens, só pelo crédito. Não que eu tenha interesse em divulgar o blog especificamente, mas vale pelo trabalhinho de tirar as fotos (nossa que super difícil né).
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Capa do CD de Automatic/time will tell |
Essa é a capa do CD de Automatic/time will tell. Ela é bem conhecida, já que ela tem dois dos maiores hits do primeiro álbum "First Love". Eram outros tempos, e esse single ainda foi lançado em outros dois formatos além do CD. Um deles foi o Mini-CD e o outro o LP de 12 polegadas.
O mais popular foi, no fim de fato o formato em CD normal. Por CD "normal" falamos do de 4,75 polegadas, enquanto o "mini" CD tem 3 polegadas.
As capas que conhecemos de CDs são conhecidas como "Jewel Case", no termo em inglês. A versão que é utilizada neste single é a versão Jewel Case Slim, uma versão mais fina que você já deve ter visto por ai. Ela é mais fina, permite um encarte menor e geralmente não possuem contracapa. Ao olhar atrás, você vai ver o verso do CD.
Um detalhezinho interessante, é que as Jewel Cases Slim possuem um pequeno chanfro nos encartes, como podemos ver em ambos os cantos esquerdos do encarte. Vai dar para ver melhor internamente. Os CDs que utilizam as Jewel Cases normais tem o encarte quadrado, salvo raras exceções.
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"Contracapa" do single de Automatic/time will tell |
Como mencionado, esse é o verso do single. Ele não possui contracapa, e a única visível nesse caso é mesmo o verso do CD e os dados das duas etiquetas.
Agora talvez tenha te batido a curiosidade: o que vem escrito nessas etiquetas? O que significa esse monte de números?
Na verdade, CDs e outras midías tem um monte de números que raramente significam alguma coisa para o consumidor final, mas eles possuem alguns significados importantes no processo de distribuição do CD e até algumas coisas de direitos.
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Etiquetas de identificação do single, com algumas informações importantes.
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Vamos começar pela etiqueta superior, a que vem junto ao encarte do CD. A parte superior, tem claro, o nome da gravadora. A Toshiba EMI Limited tecnicamente ainda existe, sob o nome de "EMI Music Japan", mas manteve o nome usado no single entre 1973 e 2007, quando a Toshiba vendeu sua parte para a EMI.
Os números dentro do quadradinho na segunda linha, é a data de lançamento do single - 09/12/1998. A data seguinte, 08/12/1999, é a data máxima permitida para qual empréstimo (locação, melhor dizendo) é permitido. Tenho certeza que todo mundo seguia a risca essa recomendação.
A linha abaixo é o nome da empresa, de fato "Toshiba EMI Kabushiki-gaisha". Esse termo "Kabushiki-gaisha" é usado para empresas que são controladas por acionistas, como os que temos na bolsa de valores. A seguir, é o endereço da empresa.
Se você quiser mandar uma cartinha: 2-2-17 Akasaka, Minato-ku, Tokyo 107-8510.
Se quiser ligar eu também consigo o telefone, embora não esteja no encarte: 03-5512-1700
(Esses dados são públicos no site da RIAJ).
O que segue, é "Stereo Made in Japan" e o registro da direitos de 1998.
A última linha tem muito mais texto, mas esse texto é bem padronizado e encontrado em formas bem similares em quase todos os CDs de música japonesa. A tradução é algo bem próximo de:
"Este CD tem autorização para locação por período determinado, após esse período, é proibido o uso para locação ou propósitos similares sem autorização do detentor dos direitos. Exceto para uso pessoal, regravação utilizando de fitas, discos, entre outros, sem permissão da nossa empresa é proibido pela lei de copyright."
Isso nos deixa com a etiqueta colada.
Eu pessoalmente não sei o que significa o nove com a estrela, mas eu imagino que seja alguma identificação interna.
Como essas etiquetas quase certamente foram impressas em máquinas com padrão japonês, elas quebram bastante os caracteres latinos/romanos. Por isso, o nome acima logo abaixo do código de barras, no lado esquerdo é simplesmente "Utada Hikaru", mas logo abaixo tem um "Auto" solto, que está completado na linha vertical seguinte com "matic/タイム" - obviamente "Automatic/Time", sem o nome completo do single.
Abaixo de auto está o kanji "物流", que tem como tradução "logística" ou "distribuição". Ambos fariam sentido, já que o código abaixo certamente é algo relacionado a distruibuição do produto, junto ao código de barras.
No canto inferior esquerdo temos de novo "Toshiba EMI", e mais abaixo "TOCT-4127". Esse número, que você sempre vai ver em qualquer CD é o número do catálogo do mesmo. Ele serve tanto para fins de organização interna, como de lançamento e registro dos direitos.
Cada tipo de lançamento tem seu próprio, e isso facilita bastante a encon
trar informações sobre. Por exemplo, a versão em Mini-CD que mencionei tem o código "TODT-5242", enquanto a versão em LP tem o código "TOTJ-4140".
Esse é o CD do single. Ele tem desenhado as três faixas do single. Acho bem legal que o padrão é bem aleatório.
Na parte inferior há o tradicional símbolo de Compact Disc, que você vai encontrar em qualquer CD oficial. De interessante, você vai ver que há o símbolo de "Eastworld", que é um selo da Toshiba EMI. É bem comum que gravadoras grandes tenham selos para lançar certos tipos de artistas.
Oficialmente, se você procurar pelos números de catálogo, esse single é da Eastworld, embora o nome da EMI esteja por todo lado. O único lugar onde esse single foi lançado especificamente pela EMI foi em Taiwan, talvez por alguma regra de direitos ou logística.
Há vários pequenos detalhes legais. O número de catálogo vem gravado junto ao anel interior do CD, assim como o código de barras. Em geral, esse tipo de coisa é bem útil para verificar autenticidade de CDs originais, mas não sei se tem alguma outra utilidade prática, porque eles são até difíceis de ver se você não olhar de um ângulo bem específico.
Ao redor do anel interior, há outro aviso de regravação ou reprodução em público, bem padrão em quase todos os CDs oficiais.
Há ainda a arte de um gatinho, abaixo do nome da Hikki. Eu não tenho certeza, mas eu chutaria que ela mesma desenhou esse caso. Ele aparece também no interior dos encartes. O gato tem até um brinquinho na orelha.
Antes de irmos para o encarte, há essa orelha externa. Essas "orelhas" vem do lado de fora do CD, e são seguras pelo plástico quando são novas. A maioria das pessoas simplesmente guarda elas dentro do Cd ao invés de jogar fora.
A parte inferior é exatamente a mesma da etiqueta que vimos anteriormente. Aqui a diferença é que temos a tracklist, com o tempo de cada música. Um detalhe interessante de observar é que o nome Automatic é tratado em destaque, mesmo que seja na prática um single duplo.
Ao lado da tracklist há informação sobre o mini-CD que também está a venda. Não sei exatamente a utilidade de divulgar um CD no outro nesse caso, já que o preço é exatamente o mesmo.
Ah, claro. O preço.
O single custava ¥1020, que na cotação atual do real vale cerca de R$ 38. Para referência um single atualmente custa ¥1200, ou certa de R$ 45 na cotação atual. É normal que os preços também venham com "incluindo impostos" ou "não incluindo impostos", porque desde 1989 há uma taxa de consumo no Japão, que cobre bens e serviços. Na época de "Automatic/time will tell" era de 5%, enquanto hoje (2024) é de 10%.
Essa é a contracapa do encarte, que utiliza o mesmo cenário da capa. Esse texto em espiral também é utilizado no videoclipe de Automatic, embora no videoclipe ele seja usado em cor vermelha. Como já havia visto, a borda com as informações, vem integrada junto com o encarte, e há o pequeno chanfro nas pontas para encaixar na caixa slim.
Há uma leve diferença de iluminação entre a capa e a contracapa, visível na foto.
A parte interna trás, as letras das duas músicas. A terceira faixa é um remix, e por isso não tem nenhuma informação. A arte ao fundo é uma nuvem de palavras, com todas a palavras sendo as duas faixa principais do single, junto com nome da cantora ao centro.
A imagem ao fundo se confunde um pouco com a letra da Automatic, embora não atrapalhe a leitura pelo contraste da letra. Os créditos de ambas as músicas são dados em inglês.
O gato de brinco retorna no fim do encarte, um pouco menos risonho do que no CD. O "* repeat" está tão convenientemente colocado que parece que é o próprio gato falando.
Abaixo, há outro texto. Quando bati o olho a primeira vez, antes de pegar pra ler, achei que seria algumas palavras da própria Utada. Na verdade é bem menos interessante - são cuidados com o CD. Algo próximo de:
"Cuidados no manuseio:
• Segure o disco com cuidado para evitar deixar marcas de dedo, sujeira, riscos, etc, em ambos os lados.
• Se o CD ficar sujo, limpe com cuidado, de dentro para fora com um tecido macio. Não use limpadores de discos ou solventes.
• Não escreva em nenhum lado do CD usando lapis, canetas ou tinta, não utilize adesivos.
Precauções de armazenamento:
• Não guarde sob luz do sol, ou lugares quentes e humidos.
• Após o uso, guarde na caixa do CD.
• Colocar objetos pesados ou derrubar podem quebrar e danificar o produto."
Em resumo, esse tipo de coisa que você já viu em vários outros lugares.
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Singles, especialmente singles desse tipo, eram de fato feitos mais para consumação do que para coleção. Por isso eles eram baratos e feitos para serem baratos, e por isso ele é bem simples.
Nas próximas, voltamos com algum álbum mais completo e com mais coisas para comentar. Apesar disso esse post já foi util para introduzir sobre a anatomia de um CD, que se repete em vários outros de forma bem similar.
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ASSUNTO ALEATÓRIO DA UTADA
Houve um período na relação mística fã-artista que havia uma aura quase intransponível entre ambos. Houve, porém um pequeno período nos primórdios da internet onde todo mundo era um pouco mais ingênuo. As vezes, circulava por ai o e-mail de pessoas famosas, e as gravadoras até deixavam um contato para você mandar suas cartinhas virtuais.
A maioria das pessoas naturalmente achava que esse e-mail iria morrer em alguma caixa de entrada, ou ser respondida por algum aleatório. Ainda assim, alguns realmente liam e até falavam sobre os e-mails que recebiam. A Utada teve um pequeno blog dentro do site da EMI, que era uma coisa um pouco mais comum antes da ascensão das redes sociais como conhecemos hoje.
Esses blogs tem postagens desde 1999, até algum momento de 2011 (uma das últimas mensagens que eu encontrei foram sobre o Terremoto de 2011).
E esses blogs tinham essa aura meio ingênua da época; vamos ver um deles:
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Blog de 03/03/1999 |
A tradução seria algo próximo de:
"Busca-se informação!
Quarta-feira, 3 de Março - 16h42
De acordo com um engenheiro aqui do estúdio, "Aquela bruxa que aparece no começo do Final Fantasy VIII parece a Hikaru-chan, do rosto até a personalidade"
Que tipo de pessoa é essa bruxa!? Eu quero saber! Fico curiosa sobre como esse cara me enxerga e eu não jogo RPGs e não tenho a menor ideia.
Jogadores de Final Fantasy VIII, me digam, por favor!"
É uma quarta-feira, quatro e quarenta da tarde, alguém olha para sua cara e te diz "você parece a vilã do Final Fantasy, de corpo e alma".
Certo, eu entendo a preocupação dela e adoro o jeito que ela simplesmente manda um "eu não jogo RPG". Na data desse post, o jogo não tinha nem um mês de lançado então ele devia estar sendo relativamente bem falado.
Os fãs claro, responderam, e ela agradeceu no post seguinte:
"Obrigado por todas as informações!
Quinta-feira, 4 de Março - 21h54
Eeeee
A maioria respondeu que a bruxa do Final Fantasy é "bonita, mas fria e perigosa... mas uma pessoa boa".
Uuuuaaaah, que tipo de pessoa o Ugajin acha que eu sou?
Apesar que nós temos a conexão do "宇*"
Eu vou matar você!
Hahaha"
*kanji com leitura de U, usado em Ultimecia, personagem de FF - e também no nome Utada, obviamente.
Ugajin se refere a Masaaki Ugajin que foi reponsável pela gravação das vozes. Aparentemente é engenheiro de dia e jogador de Final Fantasy VIII pela noite.
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Obrigado por ler.