Um pouquinho sobre Hana Yori Dango

Eu recentemente terminei de ler o mangá de Hana Yori Dango. Eu já havia tentado ler o mangá no passado, mas parei próximo ao começo. Eu também já havia assistido ao drama, que foi um sucesso no meio dos anos 2000. Tenho algumas coisas para falar sobre a obra, embora sejam comentários mais gerais. Não há grandes spoilers aqui; acho que nada vai atrapalhar sua leitura. Se alguém quer saber diretamente se vale a pena: sim, acredito que será uma boa leitura para a maioria das pessoas.

Hana Yori Dango permanece, pelo menos até a data de publicação deste texto, como o mangá shoujo mais vendido de todos os tempos. Por isso, acredito que, sendo fã do gênero, fazia sentido tentar entender o que o tornou tão famoso. Penso até que há certa discrepância entre sua fama no Japão e no Ocidente — no geral, há mangás shoujo bem mais conhecidos que Hana Yori Dango por aqui. Muita gente nem sabe que ele ainda ocupa o primeiro lugar; talvez muitos imaginem NANA ou Sailor Moon, que de fato estão no Top 10

Após terminar a leitura, consigo entender em grande parte como ele alcançou essa posição, mesmo sendo um mangá com alguns problemas flagrantes, que comentarei mais adiante. Acredito que as grandes virtudes de Hana Yori Dango sejam uma combinação de temas muito interessantes e, principalmente, alguns ótimos personagens.

Se você não leu Hana Yori Dango, a história narra a vida de Makino Tsukushi, uma garota pobre cujos pais fazem um esforço enorme para que ela estude em uma escola de ricos. Sua mãe nem esconde o motivo: quer que a filha encontre um marido rico.

Não me lembro de outras obras mainstream que retratem tanto o lado da pobreza quanto HYD. Grande parte da narrativa aborda como o mundo das pessoas pobres e comuns é tão diferente do das pessoas ricas e como as pessoas pobres, geralmente associadas pelos ricos a coisas ruins, possuem muitas outras qualidades.

Sempre bom lembrar que a "pobreza" tem níveis e definições bem diferentes pelo mundo. A família da Tsukushi é um mar de contradições nesse sentido — gastam o que não têm para que ela estude em uma escola de ricos, mas frequentemente precisam mudar de casa e cortar os gastos já baixíssimos para sobreviver.

Na realidade, esse é o estopim de HYD: quando Tsukushi decide se opor às injustiças que vinha sofrendo na escola, ela mostra diversas qualidades que aqueles ricos jamais conheceriam. A partir daí, começa uma história de amor, alguns triângulos amorosos e muitas reviravoltas (as vezes até demais).

Talvez o defeito mais evidente de HYD, que não é exclusivo dele, seja o fato de as coisas se prolongarem demais frequentemente. Alguns arcos são realmente extensos, os desencontros são excessivos e, por vezes, os personagens parecem não ter aprendido nada com lições anteriores. Isso se mantém estritamente até o final.

Personagens não precisam seguir uma linearidade, mas as vezes parece que você está vendo as mesmas situações de novo e de novo. Por isso, acho que Hana Yori é uma leitura as vezes um pouco cansativa, mas acho que há qualidades que compensam por isso.

Tsukushi é, de fato, uma ótima protagonista e a síntese de todas as mensagens deste mangá. Nenhuma descrição faria justiça, mas acredito que Tsukushi seja grande parte do motivo pelo qual as pessoas gostam tanto de Hana Yori Dango.

O grande mérito da autora, Yoko Kamio, é nos lembrar de forma sutil — e talvez essa seja grande parte da fórmula do sucesso — que a maioria de nós, independentemente da classe social, está muito mais próxima de Tsukushi do que de qualquer um dos ricos apresentados na história. Os "ricos" são personificados no F4, um grupo de garotos de famílias influentes que basicamente controlam a escola de Makino por meio de suas doações. Eles também são bonitos.

A Tsukushi representa afinal, um sentimento que todos temos de que nós não somos uma caixinha de escrita por fora, mas sim uma bula dentro da caixa, e que essa parte é a que fato representa melhor o que nós somos. E quase sempre, a caixinha que vemos por fora, é muitas vezes uma farsa escrita por nós mesmos, por diversos motivos. Para Tsukushi, era ter paz em um mundo que não o que ela realmente vivia em casa. Vendo por esse lado, não é tão difícil entender porque o público japonês se apegou tanto a obra nesse período, porque é um sentimento bem universal em qualquer lugar.

Os personagens também passam por uma grande transformação, e o romance principal da obra, entre Makino e Domyoji Tsukasa, destaca principalmente a admiração dele pelas qualidades de Makino. As pessoas sempre gostaram desses romances com dinâmicas de poder, e acho que Hana Yori Dango executa isso muito bem. Mesmo que às vezes as coisas fiquem um pouco caricatas, essa dosagem é quase sempre feita através do humor.

Apesar disso, o elenco de apoio varia um pouco — há personagens excelentes e outros bem menos interessantes. Quando a história se afasta do eixo da Makino/F4, ela se torna menos envolvente. Diria que mesmo dentro do F4 nem tudo já é tão interessante assim. Há exceções, como as histórias de Yuki e Nishikado, que são realmente intrigantes.

Ainda há vestígios de elementos que também apareciam em outros mangás da época, como as personagens femininas muitas vezes sujeitas a situações que beiram o abuso. Não quero que confundam isso com algumas cenas de sexualidade no mangá (que, no geral, são leves); as duas coisas são distintas. Tampouco digo que seja fruto da mente da autora no sentido de ela concordar com isso — é simplesmente um reflexo de como as coisas eram vistas naquele momento

O mangá também é visualmente bem bonito, e eu pessoalmente adoro que os personagens de fato mudam bastante visualmente ao longo da obra.  A Yoko Kamio de fato desenha muito bem e fiquei com bastante vontade de ler os outros mangás dela (mais especificamente Cat Street). Ela desenha os personagens em situações bem diferentes, roupas e penteados diferentes. Nesse sentido, ele é bem variado. É até curioso porque a maior parte das imagnes que você vai ver da Tsukushi na internet, são dela de cabelo comprido, como no começo do mangá, mas que não é a forma como ele fica na maior parte da obra.

A obra é em geral boa, mas com alguns percalços mencionados: as vezes as coisas parecem longas demais, os problemas parecem maiores do que realmente são e alguns personagens simplesmente destoam um pouco. Apesar disso, acho que a temática central é muito boa. O núcleo central de personagens são bons, no geral. O mangá não é exatamente de comédia, mas quando ele vai para esse lado costuma ser muito bom. 

Sinto que Hana Yori Dango poderia ser mais curto. Em alguns momentos (especialmente mais para o final), parece que houve tentativas de prolongar a história devido ao sucesso. Isso prejudica um pouco a leitura.

Sei que costumo fazer posts bem mais longos, mas acho que é isso que eu queria falar de Hana Yori Dango.

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Obrigado por ler.