Saori@destiny, Saoriiiii ou Saori Rinne

Tanaka Rena Estrela Em Outro Excelente Filme Mediano - GTO (1999) - Parte 1


Acho que todas as pessoas têm algum filme que criticamente sabem que é na melhor das hipóteses mediano, mas que adoram mesmo assim. Hoje vou rever o filme de Great Teacher Onizuka, de 1999 - e vou escrever sobre ele!
Esse filme é uma continuação da série de 1998 estrelada por Takashi Sorimachi, e também do especial feito após a série. Além do próprio Takashi, o filme estrela também Tanaka Rena. Não confundir com a Tanaka Reina (do Morning Musume), que inclusive escreve o nome em hiragana para não ser confundida com essa aqui, já que os nomes das duas são idênticos em kanji (田中麗奈).

Tanaka Rena, que por sinal é possivelmente a minha atriz favorita. Ela é bem talentosa, um tanto articulada para papéis diferentes e que tem uma habilidade que poucos atores têm: de abrilhantar filmes medianos. Ainda me faltam alguns poucos filmes dela para assistir, mas é bem impressionante a quantidade de filmes medianos em que a Rena atuou.

Claro, ela atuou em alguns bons filmes como Ganbatte Ikimasshoi e Kurai Tokoro de Machiawase, mas a lista de filmes médios (e alguns poucos ruins) é um tanto mais extensa. Alguns são mais aclamados pela crítica como Tokyo Marigold, embora eu pessoalmente não tenha gostado tanto do filme, e alguns outros como Yamazakura são só bem ruins mesmo (esse especificamente é insuportável de assistir).

Acho que talvez o filme que mais represente isso é o filme Hatsukoi de 2000, que tem inclusive trilha sonora de Joe Hisaishi, mais famoso pelas trilhas do estúdio Ghibli. É um filme com uma ótima atuação dela, e que consegue tornar uma história um pouco sem graça em algo consideravelmente melhor. Melhor mesmo - no sentido de que se algum outro ator fizesse o mesmo personagem, o filme provavelmente cairia bastante de qualidade.

Isso nos leva de volta a GTO - que já era um sucesso por si só. A série original aconteceu em 1998,  e ganhou um revival em 2024. Eu ainda não vi, então sem comentários sobre. Quanto ao filme; já comentei sobre ele ser mediano, mas a série é verdadeiramente boa. Ela é engraçada, por vezes emocionante e até consegue te passar algum tipo de mensagem - mesmo que a maneira de passar do Onizuka seja, digamos, não muito convencional.

O filme por outro lado toma uma decisão interessante - tudo isso é deixado para lá. Embora seja o mesmo Onizuka, não há quase nenhum resquício da série original. Os personagens da série estão só na série, e os personagens do filme estão só no filme.

(Eu tive um leve devaneio de pensar que é parecido com Castelo Rá-Tim-Bum e o seu filme, mas não faz tanto sentido já que nesse caso há troca de elenco até para o protagonista. Talvez a relação seja mais no sentido de ter uma certa coragem de jogar quase tudo fora para contar uma nova história).

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Esse texto foi dividido em duas partes. O motivo é simplesmente que eu tenho protelado muito para escrever, e publicando uma parte eu me sinto obrigado a terminar em algum momento.

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Talvez a abertura do filme seja uma das partes mais interessantes do filme todo. 

Ele começa com a descrição de um milagre de verão, em uma pequena cidade chamada Horobinai. Aparentemente, essa cidade é fictícia e composta de vários locais diferentes. A escola usada no filme por exemplo, é localizada aqui

Apesar disso, ela descreve uma situação bem real que aconteceu em vários lugares: o fim da bolha econômica dos anos oitenta. Aquele período de prosperidade econômica e bonança que parecia que nunca teria fim. Exceto que ele teve, de fato, final. Os anos noventa foram um período de muita mudança, mas assim como no Brasil os anos oitenta são vistos como "a década perdida", os anos noventa são o equivalente japonês. 


Esse gráfico é um bom exemplo de como de fato, o Japão nunca se recuperou totalmente daquele período. O Japão inclusive tem a segunda maior dívida pública do mundo em relação ao PIB. O crescimento do país tem estagnado desde então. Esse é o tamanho do buraco da bolha econômica.

E claro, esse período deixou marcas na sociedade. Em poucos minutos, o filme fala sobre dois dos protagonistas, ambos de contextos diferentes, mas ambos em cenas de tentativa de suicídio, e que representam bem a alma das pessoas daquela cidade.
 


Após evitar (involuntariamente) o suicídio de um dos protagonistas (Raku) do filme logo no começo, o rapaz é imediatamente... assaltado... por Onizuka. Não tem muitas outras maneiras de descrever. O motivo é que a gasolina da sua moto acabou, e nada melhor que dois alunos para empurrar a moto até a escola.

Chegando lá, temos a cena acima. É a primeira cena completa de fato com a Tanaka Rena. Ela interpreta Ayano Katsuragi, uma garota que questiona seus professores sobre motivos para viver, com a intenção de cometer suicídio ali mesmo, pulando do telhado da escola.

Acontece que nem o desejo dela de morrer era tão grande quanto a cena ridícula que se desenrola logo abaixo. Onizuka pede para ela deixar o rapaz (Raku) terminar o serviço e pular primeiro. Ela acha tudo muito ridículo e desiste de se jogar. Os professores, que são apresentados como uma parte grande do problema da série, se vangloriam por terem "salvo" Ayano.

Acontece que como veremos, a Ayano adora um showzinho - e um showzinho tirando o foco dela já era mais que o suficiente na cabeça dela.

Acontece que Onizuka e Raku acabam se desequilibrando e caindo do prédio. Por sorte, já estavam preparados para a Ayano pular, então eles acabam salvos por um colchão de treinamento. Sendo justo com os roteiristas, não dá pra dizer que foi conveniência.

Ali começa uma cena cômica onde ninguém acredita que aquele cidadão, que estava incentivando um aluno a pular do prédio, é o novo professor da escola. Essa cena tem um efeito especial incrível de queda.

Acho que a atuação do Takashi nesse filme não é do mesmo nível que ele tem na série. Não sei se é exatamente culpa dele ou do roteiro, porque às vezes algumas cenas parecem um pouco artificias. Esse filme tem um pouco mais de caras e bocas e frases de efeitos do que a série tinha. Não me entenda errado, a série também tinha tudo isso... elas só pareciam mais naturais.

A cena importante seguinte é o segundo showzinho da Ayano. Calma que ainda tem bem mais.


Um dos colegas de classe da Ayano pede pra que ela maneire no fingimento. Bom, é um pouco estranho porque aparentemente eles são a pior classe, e os showzinhos dela aparentemente cancelam algumas aulas de vez em quando. Apesar de que aquela altura eles já deviam estar mesmo de saco cheio.

E deveriam mesmo: a Ayano usa um estilete para simular que esse mesmo colega de classe a teria atacado, deixando ela ensanguentada. Acho uma pena que o filme já mostre diretamente que aquilo tudo é uma farsa, mostrando a caixa de suco de tomate usada pela Ayano no chão. Onizuka menciona que ela usou já na cena seguinte. Acho que dava pra essa cena ser um pouco mais enigmática e melhor composta.

Após o desenrolar disso tudo, ela é levada para a enfermaria. É um pouco engraçado que ela aparentemente dormiu de verdade. A menina é mestre em fingir bem. Lá a gente tem o terceiro showzinho da Ayano. Dessa vez vou admitir que ela armou bem.



Acontece que na faculdade de sacanagem onde a Ayano é formada, o Onizuka já tem mestrado. Ele consegue escapar pela janela - e tudo bem, a culpa fica só no Raku, como sempre, que estava só tirando um cochilo na enfermaria.

Aliás, falando em lugares bons para tirar cochilos aleatórios: não é o cinema, quando está passando algum filme horrível, um lugar ótimo pra dormir? Eu sei que pagar pra dormir vai contra tudo que eu prego, mas um sono de qualidade as vezes vale.


Após todo o drama da Ayano, vamos para mais um drama da Ayano. Dessa vez não exatamente não por culpa dela.

Onizuka acaba na casa do Raku, comendo de graça e ganhando a confiança da mãe dele. Acho que a piada nessa cena é que o Raku e o pai são parecidos na timidez, enquanto a mãe preferia alguém mais como o Onizuka.

Depois temos algumas revelações importantes. A primeira é que o Raku tem como confidente uma vaca chamada Patricia. A segunda é que ele tem uma coleção de pornografia, o que é bem importante para o Onizuka. A terceira é que ele é apaixonado pela tal da Ayano Katsuragi.

Eu não vou culpar ninguém de se apaixonar pela Tanaka Rena, mas a Ayano é do tipo avariada que... é pensando bem tem bastante gente que gosta dessas também. Apesar de a comédia dessa cena não ser lá muito boa, eles apresentam algumas coisas sobre a Ayano de uma forma até bem interessante.

O Onizuka cogita que eles não dariam certo porque ela teve uma vida difícil - pai endividado, divórcio, fugindo de credores, etc. Acho que a maioria das pessoas pensaria isso, mas na realidade, não tem nada disso. O pai dela é o mais poderoso da cidade e ela não teve nem metade desses problemas ai. Ela só é problemática por conta própria mesmo.

Apesar disso, o filme até esse momento não tem muito bem estabelecido o que vai mover o roteiro. Qual a história, afinal? Raku apaixonado pela Ayano?

Lembra dos jornalistas do começo, que estão atrás de um suposto criminoso? Bem, eles estão de volta para ajudar esse filme a andar um pouco para frente.

Já voltamos com o RakuAyano logo mais.


Os jornalistas estão novamente na trilha do criminoso que eles estão procurando. Ah sim, eu não adicionei isso nas imagens, mas há uma pequena cena de um personagem misterioso que aparece na cidade com sua lambreta já sem gasolina. Sério, alguém tem que abrir um posto de gasolina nesse lugar.

Na busca de encontrar alguma pista, eles dirigem pela cidade e quase se envolvem em um acidente. Claro, o par na bicicleta era Raku e o Onizuka. O Onizuka nota que a jornalista está com sua camisinha da sorte - e ela, claro, tem certeza que encontrou  o que estava procurando.

Ah sim, eles fazem pouco caso desse fato, mas eles acabaram de capotar o carro e atingir um ciclista nas costas. Bastante irrelevante. Uma pequena coisa que é legal nessa cena é que eles usam muito bem o silêncio. É realmente um acidente sem absolutamente nada próximo, em uma cidade rural do interior.

Bem, acontece que o Raku não está nem ai por ter levado uma rabada do carro nas costas, mas está muito preocupado com o horário da aula - e eles saem apressados para a escola, só dando a informação que o Onizuka é um professor substituto na escola. Que escola? Só tem uma escola nesse lugar.

Após chegarem a escola, eles conhecem o pai da Ayano, que é um tipo de milionário folgado que é exatamente o que você esperaria. É também na cena seguinte que descobrimos que a Ayano vai embora da escola já naquele fim de semana.

Certo. Após o corte dessa cena, o que temos? Onizuka tentando subornar a Ayano a ficar com o Raku. O que nos leva ao incrível diálogo:

- Você está sugerindo a prostituição de uma garota em idade escolar?
- Sugerindo não. Insistindo.

[Na verdade ela fala de enjo-kousai, que é um pouco diferente da "prostituição" que as pessoas pensam aqui, mas não deixa de ser uma forma de prostituição também]

A Ayano dá uma carteirada e dá dinheiro para ele deixar ela quieta. Funciona impressionantemente bem. Sendo justo eu também aceito dinheiro caso alguém queira que eu saia do ambiente, mas infelizmente nunca aconteceu.


De volta para os jornalistas, eles chegam a conclusão de que Onizuka deve ser o criminoso que eles tem procurado. 

Alguns alunos se incomodam com o fato de o Raku ser tão próximo do professor, e decidem que a única maneira de resolver isso é batendo nele. Certo, pode fazer sentido na cabeça de alguém. Acontece que o Onizuka leva a turma toda - Ayano inclusa - para assistir a briga.

E já prevendo como seria o ano de 2025, ele decide abrir a própria bet e fazer aposta de briga de colegiais. Certamente um visionário. A Ayano aparentemente acha legal a ideia, e decide apostar 100k ienes no Raku.

Essa parte toda do filme tem um tom dramático estranho. Primeiro porque o drama é bem fraco como um todo - o Raku gosta da Ayano, e ela quer mais que ele vá plantar batatas. Ele quer se provar para ela, e não é exatamente como se ela realmente se importasse com isso. No máximo ela reconhece que ele é esforçado.

Certo, sendo justo com a Ayano, ela talvez seja uma das poucas pessoas do filme todo que não tratam o Raku mal. 

O subtexto da briga é até legal. O Raku finalmente aprende a revidar, o que é até uma coisa importante de certa forma. Especialmente se você lembrar que o outro cara é um bully. Mesmo tendo apanhado bastante, os colegas de classe ficam do lado dele no fim da briga.

Eu comentei antes que muitas vezes nesse filme a maior parte dos discursos do Onizuka parecem artificiais, mas esse talvez seja exceção. Ele fala sobre os colegas do Raku sempre terem ficado do lado do bully, mas querem mostrar simpatia agora que eles viram ele de fato sofrendo diante deles. De fato, isso é bem verdade e bem comum nesses casos. As pessoas tendem a subestimar esse tipo de violência até sofrerem ou verem com os próprios olhos, geralmente de alguma forma violenta.

Claro que esse belo discurso tinha que ser discutido pelo nosso guarda-chuvinha de chocolate amargo, Ayano Katsuragi. Ela diz que aquilo tudo é exatamente o que é a  amizade: pessoas traindo umas as outras.

Sou sempre suspeito para falar da atuação da Rena, mas ela de fato faz a Ayano parecer uma pessoa amarga o tempo todo. 


Há uma ceninha engraçada antes da troca, em que o diálogo acontece mais ou menos assim:

- Não se apaixone por garotas de sangue-frio que nem ela.
- Não tem o que fazer. Eu estou apaixonado por ela.
- Esse é o problema!
- Não tem nada que eu possa fazer.
- Eu vou arrumar pra você.

E o Onizuka prossegue com puxar o genital do Raku pra arrancar ele fora. Olha, é extremo, mas nessa idade talvez resolva. Depois, estamos de volta a vida bucólica da fazenda onde vivem Raku e sua família.

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Continuamos na parte 2.

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Obrigado por ler.