CDs ainda desfrutam de certa popularidade, que varia ao longo dos anos, mas vamos tentar entender um pouquinho o lado deles.
Por exemplo, eles ainda vendem significantemente bem no Japão, talvez o último mercado do mundo onde eles ainda são uma parte significante das vendas. As razões pelas quais o CD ainda vende são diversas, mas frequentemente a música não é o principal. Muitos eventos de grupos e artistas vêm com tickets, brindes e outras coisa que estimulam a compra - o que vem no CD em si é um pouco secundário. Globalmente, hoje o CD representa cerca de 5% do total de vendas da indústria.
É totalmente compreensível. O CD, assim como o LP e o K7 são mídias um tanto inconvenientes. Você precisa de um equipamento que possa tocá-los, e veja bem, eles tem ficado cada vez mais raros. O formato de streaming, o de plataformas como o iTunes e ainda a pirataria, são muito mais práticos e convenientes. Qualquer equipamento de baixíssima qualidade reproduz bem um MP3 e formatos similares.
Apesar disso, eu ainda gosto bastante dos CDs, e vou tentar explicar um pouquinho os motivos. Eles passam um pouquinho por qualidade de áudio, colecionismo, preço e claro, admito, alguns caprichos que são bem pessoais.
Antes que alguém me pergunte, eu não sou audiófilo ou algo do tipo - mas eu gosto de ouvir as coisas em uma boa qualidade, mesmo que não seja a melhor qualidade.
UMA PALAVRINHA SOBRE QUALIDADE DE AÚDIO
Como mencionei a pouco, não sou audiófilo nem nada do tipo. Na verdade, e é até um pouco vergonhoso dizer isso, nas poucas vezes que ouvi em equipamentos ótimos eu nem notei lá tanta diferença assim pra qualidade que eu ouço no meu modesto equipamento aqui. Isso é provavelmente mais uma limitação minha, do que ausência de diferença na qualidade.
Mesmo sendo um limitado como pessoa, ouvir um MP3 em fone de celular (o que eu fiz pela maior parte da minha vida, e ainda faço em certas circunstâncias) e mudar pra um fone bacana é subir um degrau na sua percepção de qualidade de áudio das músicas. Ouvir um bom CD, em um equipamento legal e com um bom fone é quase subir um muro.
O salto é realmente significativo. Há uma certa alegria difícil de descrever em ouvir (ou notar) coisas que você nunca havia percebido em músicas que você gosta. Vou tentar passar um pouquinho, de uma forma mais didática, sobre qualidade de áudio.
Vamos tentar explicar sem que isso fique chato - para explicações mais técnicas, tem outros lugares melhores por ai. Eu não sou um especialista, e é mais uma das várias coisas que eu só sei o suficiente.
Em estúdio, quando uma música é gravada, ela pode ser gravada em formato digital ou analógico. Historicamente o formato analógico é o mais utilizado, por manter uma qualidade muito próxima do que foi realmente reproduzido pelos músicos. Quando alguém fala com você, a voz que você escuta não está limitada pelos zeros e uns de um computador, mas sim pela frequência e propagação natural do som. A captura analógica usada em estúdio não é perfeita, claro, mas é muito fiel ao que realmente foi tocado.
O formato comercial analógico que é mais conhecido pelo público é o LP. Com um bom equipamento e um LP, você consegue ter uma qualidade analógica bastante fiel. Você já deve ter visto por ai algum artista atual lançando uma versão LP de algum álbum, e ficou se perguntando o motivo disso - não é por nostalgia, muita gente compra LPs realmente pela qualidade de áudio.
O LP passou a vender menos que o CD globalmente em 1988 - e essa batalha nunca terminou de fato. Na verdade, o "disco de vinil" ultrapassou o CD em vendas em 2020. Uma bela história motivacional.
Onde entra o MP3 nessa história? Onde ele está situado?
Não vim aqui para cometer uma injustiça contra o MP3. Ele é de longe um dos grandes responsáveis por tornar a música muito mais acessível a todos, e o motivo pelo qual a maioria das pessoas ouviram milhares de músicas e álbuns nos últimos trinta anos. Se a música é consumida em quantidade industrial pelas pessoas, se deve a ele. Se as pessoas consumirem em quantidade industrial é bom ou não, é outra questão.
O MP3 surgiu em um período onde armazenamento ainda era um problema real. Os computadores e a maior parte das mídias não tinha um armazenamento considerável - na realidade eles eram frequentemente ainda contados em megabytes (MB). Pode entregar um pouco a idade, mas o primeiro computador que tive em 2006 tinha 80GB de HD. O MP3 foi criado no final dos anos 80 e lançado oficialmente em 1991 - e bem, o mundo da música nunca mais seria o mesmo após sua chegada.
Devido as limitações de espaço da época de sua criação, ele era um formato de codificação que comprimia os dados ao máximo. O feito do MP3 é bastante impressionante tecnicamente - ainda mais quando você compara com outros formatos.
O "The Wedding Album" cujo nome oficial é só "Duran Duran" |
O lado ruim disso é que compressão, se tratando de música, significa perda de informação. Quais são os outros formatos em questão? Um deles é o WAV. Se você já viu um, sabe que ele é gigantesco comparado a um MP3. Um único arquivo de alguns minutos pode ter dezenas de MB, ou até mais. Para feito de comparação, um mesmo arquivo de 1 hora em MP3 tem cerca de 60MB, enquanto o mesmo arquivo em WAV tem 606 MB.
Uma bela diferença. O que o WAV tem que faz ele ficar tão pesado?
Ele contém o máximo de informação possível para um arquivo digital, utilizando um método chamado PCM (Pulse Code Modulation) - simplificando, um método de representar digitalmente um arquivo originalmente analógico. É meio óbvio, mas todo arquivo no seu computador é digital, mesmo que a origem dele seja puramente analógica.
Sinal Analógico x Sinal Digital |
Em geral, o que muda de um arquivo para o outro é "o quanto de informação é perdida?"
Neste gráfico acima, temos um sinal analógico, completamente puro e sem distorções. Abaixo, temos ondas quadradas (digitais) que tentam representar o sinal analógico acima. Em cada cenário, você pode notar, há espaços entre a onda digital e a onda analógica - essa informações, de alguma forma é sempre perdida no formato digital.
Aqui é onde está a diferença entre os formatos digitais - falando de forma grosseira, o tamanho desse "espaço" entre a onda digital e a onda analógica. Por esse motivo, o MP3 é considerado um formato "lossy" ("com perdas"), onde uma quantidade grande de informação é perdida, mesmo nos formatos de MP3 320kbps (o mais usado é o 128kbps). O YouTube por exemplo, é limitado a 256kbps.
Esse monte de números é o "bitrate". Ele é um pouco mais complexo de explicar, mas em geral, um bitrate mais alto significa que mais dados estão sendo passados por unidade de tempo. Por isso, um MP3 320kbps tem mais qualidade de áudio de que um MP3 128kbps.
Onde estão os CDs nessa equação? Bom, se você já jogou um CD para um computador, deve ter notado que eles ficam em formato WAV. Logo eles também são arquivos dessa qualidade e gravados nesse formato, correto?
Isso é uma meia verdade, porque o formato usado nos CDs é o CD-DA (Compact Disc Digital Audio) , definido pela padronização (Red Book) entre a Sony e a Philips, criadoras da mídia.
O que causa essa confusão é que ele usa o mesmo método do WAV (e por isso aparece como tal), o PCM (Pulse Code Modulation). Os CDs em CD-DA tem 1411 kbps (16-bit / 44,1 KHz), que é a mesma do WAV por usar o mesmo método. Por isso, ele é um formato "lossless", ou "sem perdas". É consideravelmente mais que os 320 kbps de um bom MP3, e bem mais do que os 128kbps de um MP3 comum. Outros formatos como o FLAC, ajustam o seu bit-rate de forma dinâmica, para combinar tamanho do arquivo reduzido e manter a qualidade do áudio.
Todo esse papo, para dizer que CDs tem em geral uma ótima qualidade.
Isso é bem interessante - porque aqui tem um contraste do que é real e o que as pessoas experimentaram. Porque boa parte das pessoas, as que sequer tiveram contato com CD, tiveram através dos CDs com MP3 que se popularizaram nos anos 90 e 2000.
Talvez quem leia esse blog seja um pouco mais novo e nem saiba disso, mas os CDs Players originais, sequer liam o formato MP3. Eu tenho um Sony CDP M33, que só lê os CDs com os formatos padronizados. Se você coloca um MP3 dentro dele, ele levanta e te dá na cara pelo desrespeito com os mais velhos.
Por isso, muita gente tem a impressão que o CD tinha uma qualidade comum ou bem similar ao MP3 - mas isso não é verdade para os CDs que não eram MP3. Isso é igualmente verdade para as coisas analógicas como o vinil. Muita gente fica surpresa ao saber que o vinil tem ótima qualidade áudio - aparentemente velho significa menor qualidade na cabeça de muita gente.
Isso até devia ser verdade na época do Harry Houdini.
E alguns são tão bonitos |
EQUIPAMENTO
Uma parte importante de música é que o equipamento tem um grande impacto sobre a qualidade. Você talvez esteja pensando agora em só baixar suas músicas favoritas em WAV ou FLAC, cancelar a sua assinatura de streaming de música e só ouvir na melhor qualidade possível. Embora talvez você já sinta uma relativa diferença, em geral só isso não produz uma grande diferença. Geralmente, computadores e celulares possuem sistemas de áudio bem simples.
Essa parte do equipamento é o conversor-digital-analógico (DAC - Digital Analog Converter), e ele provavelmente nem poderia ser muito melhor devido ao espaço e preço. O fone também tem suas limitações - um tanto mais complexas e específicas.
Por isso, em geral, esses equipamentos não tem como objetivo ter um ótimo audio. Até porque para a maioria das coisas, não se precisa ter um ótimo áudio - simples assim, se você quiser, precisa de um equipamento externo.
Quando comecei a comprar CDs só para colecionar, eu escutava eles em um pequeno boombox da Lenoxx que salvei de ser jogado fora por uma tia. Nada conhecido por ter uma boa qualidade - mas já era razoavelmente melhor do que ouvir no meu computador.
Eu passei a utilizar um fone JBL Tune 710BT, com saída auxiliar - porque eu queria poder conectar ele nos equipamentos e não só utilizar o bluetooth. O aúdio dele é bem sólido, sem distorções e bastante limpo - mas tem equipamentos melhores por ai... em outra faixa de preço, é claro.
Depois de ficar um bom só com meu radinho da lenoxx, eu decidi passar para um CD Player de fato. O escolhido foi o Sony CDP M33. Por que ir atrás desse tipo de velharia?
Sony CDP M33 - de 1992 |
Em geral, CD Players antigos eram de boa qualidade e usavam bons componentes. Esse tijolão tinha uma única função - tocar música e nada mais. Por isso, não é surpresa que sendo todo dedicado a isso, a qualidade seja boa para música, comparado a outros aparelhos com muitas outras funções.
Por serem antigos e a maioria das pessoas pensarem neles como velharia que só ocupa espaço, você consegue achar eles relativamente bem barato - coisa de 200 reais, mas dá pra achar por menos se achar algum desavisado.
A limitação dos CDs é que eles são um pouco frágeis. CDs riscados travam as vezes - é realmente um lado bem negativo, mas em geral eu conservo bem os meus e a maioria não tem problemas. Não dá pra manter uma coleção se você vai maltratar o seu CD.
E OS CDS HEIN?
Eu comentei lá atrás que o vinil havia vingado a sua derrota no final dos anos oitenta - e de fato, o vinil tem ganhado com certa folga. O que é bem interessante é que o CD também teve um certo aumento no começo dessa década, embora seja um fenômeno um pouco mais difícil de explicar. Talvez tenha sido só uma onde de artistas populares, não sei dizer.
Mas grande parte do mercado de CDs hoje, funciona através de usados. A (segunda, terceira ou quarta) mão amiga do mercado.
Desde que eu comecei a colecionar CDs, a maioria de música japonesa, eu comecei a monitorar mais o que se vende por ai. Um ponto positivo é que CDs são realmente bem baratos lá fora - como é uma mídia que a maioria das pessoas não liga mais, boa parte das pessoas querem mais é se livrar deles logo.
Já peguei CDs no Yahoo Auctions do Japão, onde o vendedor me perguntou se eu não queria alguns de brinde. Por mim tudo bem, claro. A Receita Federal adora.
Aqui no Brasil, os CDs de JPOP em si são um tanto inflacionados - o que é até normal por serem raros, mas alguns são bem fora de qualquer realidade razoável. Em geral, vale a pena importar e levar a pancada de uma vez só (infelizmente CDs não são isentos de taxas como livros).
Meu eterno amor pelos poster dobrados em oito partes que nunca vão ficar bons novamente |
Os sebos, geralmente lembrados pelos livros, ainda estão cheios de CDs e você acha alguns por preços ótimos, mesmo os de bandas internacionais. A minha cidade tem um com bastante variedade, e ainda brotam algumas coisas novas por lá de tempos em tempos. É um passatempo divertido garimpar por lá. É algo que eu sempre faço quando tenho um certo tempo.
Por isso, o CD tem a vantagem de ser uma mídia hoje razoavelmente barata - e em boa qualidade de áudio também.
E claro, não vou negar, eu gosto de colecionar. A minha coleção não é tão grande quanto as que vocês veem por ai, mas gosto bastante de ter as coisas e poder escutá-las a qualquer momento. Apesar de gostar de colecionar, eu não gosto de ter coisas para não usar. Se eu tenho algo na coleção e me deu vontade de ler, ouvir ou assistir, eu simplesmente vou lá, pego e faço. A mídia não foi feita pra desmanchar depois de uma utilização. Nem de vinte.
Acho que varia muito de como as pessoas encaram música - eu gosto de pensar em música como uma atividade primária e não só como uma coisa que eu escuto enquanto faço outra coisa. Por isso, um equipamento específico, me serve muito bem.
Eu também gosto de ouvir música fazendo outras coisas - adoro ouvir jogando algo casual tipo Stardew Valley. Embora vendo algumas fazendas eu já não tenho certeza se Stardew Valley é tão casual assim.
Por isso, ter um equipamento específico é bem interessante...e com menos distrações também.
A parte do colecionismo talvez seja a menos "lógica" de todas essas. Porque eu realmente gosto dos CDs e das coisas que acompanham eles.
Os encartes ainda tem seu charme - muitas vezes com fotos e artes que são interessantes por si só. Como comentei no post do SPEED - tem algumas coisas que só são possíveis de perceber se você tiver o CD em mãos. As vezes pode ser o tipo de impressão usado ou até o quão de má qualidade é o papel usado. Tem sempre uma coisinha para notar em todas elas. Ah, eu não tenho nenhum CD de jogos antigos. Mas eu achava as capas de CD, como as usadas no Playstation e no Sega Saturn muito bonitas - em geral bem mais bonitas que o estilo de capa de DVD que se tornou o padrão depois.
É uma pena, acho que era uma identidade própria bem legal - e hoje nem vem nada dentro das caixas mesmo... diminui isso ai.
Infelizmente a mídia CD também produziu atrocidades como o longbox, que foi feito pra reutilizar as prateleiras que serviam os vinis - e agora, veja só que legal, eles não encaixam em lugar nenhum no planeta terra.
--
Obrigado por ler.