Alguns Shows Favoritos


Algum tempo atrás tive uma pequena discussão com um colega: não existe nenhum bom motivo para gostar de música ao vivo em relação a música gravada em estúdio. Em partes, essa opinião pode ser considerada tecnicamente correta: a música em estúdio é gravada em ambiente controlado, pode-se gravar e regravar até ficar bom e você ainda conta com toda a gama de equipamentos que apenas um estúdio pode oferecer.

De fato, essa visão cínica pode ter certo lastro técnico, mas para funcionar ela depende de propositalmente atribuir um gosto que as pessoas que gostam de performance ao vivo não possuem. Ninguém que gosta de assistir um concerto espera, de fato, que a versão ao vivo seja tecnicamente tão boa quanto a versão de estúdio. Isso é bem diferente de alguém preferir a versão ao vivo de uma canção - dificilmente ela é tecnicamente melhor, mas existem várias outras qualidades que podem tornar ela tão boa quanto a versão de estúdio.

Nesse post eu irei falar alguns dos meus concertos favoritos. Ah sim, é bom deixar claro que estou falando de assistir concertos e não de ir a concertos, que é uma outra experiência bem especial, mas diferente.

Pode ser que um dia eu faça um post específico de algum dos concertos aqui. Não é como se esse blog fosse consistente ou algo do tipo. 

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SPEED - SAVE THE CHILDREN (2003)


Em 2003 o SPEED se reuniu após quase dois anos para um novo álbum - "Bridge". Esse álbum é certamente um dos mais interessantes do grupo, e também certamente o menos comentado (ao lado do 4 Colors). Ele é produzido por vários artistas diferentes (Ex: Tommy february6, Gospellers e Tsunku) ao invés de somente o seu produtor principal Hiromasa Ijichi, principal colaborador dos três álbuns anteriores.

Esse álbum fez parte da ação internacional conjunta "Save the Children" que teve participação de diversos artistas do mundo todo. Essa colaboração resultou em álbuns, concertos e outros materiais relevantes para arrecadar fundos para a caridade. No caso do SPEED, o resultado foi o álbum supracitado e o concerto "Save the Children" de 2003.

Na pré-lista que eu fiz para escolher alguns concertos para comentar aqui, eu tentei evitar de colocar mais de um concerto de um mesmo artista. O outro ótimo concerto do SPEED que estava na lista era o "Speed Tour Rise in Tokyo Dome" de 1998 - talvez o maior concerto que o grupo já fez. Não seria exagero se ele estivesse aqui, porque ele é a representação perfeita do auge do grupo - todas as grandes canções estão lá, a produção é excelente e a energia também. 

"Save the Children" tem algumas coisas extras que me fazem gostar um pouco mais dele do que o concerto do Tokyo Dome. Ele não só incorpora os hits da primeira fase do grupo, mas ele também trás algumas performances solos dos membros do SPEED - todas elas aquela altura com singles e álbuns lançados - e veja só, todas as performances são muito sólidas. Ajuda também que eu gosto de quase todas as músicas solo apresentadas.


Tem também um outro fator especial no concerto de 2003 - todas elas agora já estavam, obviamente, mais velhas. No concerto do Tokyo Dome em 1998, elas eram adolescentes que transbordavam energia. No concerto de 2003, cinco anos depois, elas estavam chegando a idade adulta, muito mais técnicas, um pouco menos saltitantes, mas muito mais aprimoradas vocalmente e com uma presença de palco muito maior.

Essa "presença de palco" maior é notória nas performances solos de cada uma delas. Me pergunto se as adolescentes de 98 conseguiriam, e eu pessoalmente acho que não daquela forma. As de 2003 certamente conseguiram, e por isso acho que o concerto está um pouco a frente do Tokyo Dome. Há algo nelas individualmente que acho que as adolescentes de 1998 ainda estavam adquirindo.

Além disso tudo: as coreografias estão bem executadas e os dançarinos de apoio mandam muito bem. 

Outro detalhe que eu vou eventualmente abordar nos outros concertos, mas que esse também faz muito bem: o setlist é muito bem montado. Bom, não seria um setlist bem montado um setlist feito simplesmente de músicas boas? É verdade que um setlist repleto de músicas boas vai se sair bem na média, mas como elas são posicionadas importam muito.

Um setlist que sabe inserir as cadências e subidas do concerto é uma parte importante de como passar a energia do concerto para o público.  Porque ao longo de 23 músicas, ainda mais não estando presente lá no calor do momento, é bem possível que você se canse do concerto mesmo antes da metade - a minha lista de concertos pela metade é meio grande por causa disso.

Por isso, acho que o concerto é talvez a melhor performance vocal ao vivo do SPEED e também tem bastante energia, embora um pouco menos que o concerto de 1998, e com uma qualidade de arranjos e produção muito boas. Na questão dos arranjos, acho que o STC faz coisa similar ao Tokyo Dome com relativamente menos recursos.


UTADA HIKARU - IN THE FLESH (2010)


A Utada tem outros ótimos concertos, a grande maioria deles bem mais produzidos do que o In The Flesh.

Dentre os grandes concertos o meu favorito é o WILD LIFE de 2010. É como se alguém tivesse me perguntado "Quais suas músicas favoritas da Utada Hikaru?" e tivesse produzido quase todo um concerto ao redor disso. Ele é todo bonito, orquestrado e com ótimos músicos acompanhando as músicas.

Apesar disso, eu ainda assim escolhi o In the Flesh. Ele é parte da primeira turnê internacional da Utada Hikaru, de 2010. A versão que pudemos assistir através do DVD é a compilação entre os shows de Nova Iorque e Londres, realizados com alguns dias de diferença.

A Utada é notoriamente um pouco tímida ao vivo. Ela não costuma sair muito do padrão - um padrão bom por sinal. Por isso, quase todos os concertos da Utada se mantém em um tripé bem sólido: voz, produção musical e produção do concerto em si. E todos são sempre executados muito bem frequentemente.

Acho que o que torna o In the Flash (ITF) especial é que as decisões tomadas para a realização do concerto foram bastante acertadas. Utada Hikaru é extremamente popular no Japão, e não por coincidência é dona de alguns álbuns no Top 10 de mais vendidos da história. Inclusive o número um. Isso não significa porém, que ela seria conhecida mundialmente e por isso uma turnê mundial parecia um pouco de ousadia.

A demanda certamente existia, mas você não poderia esperar que ela fosse encher o Estádio de Wembley ou a O2 Arena - mas um clube? Bom, isso certamente dava pra fazer.

E foi assim a turnê toda. Ela foi feita quase que exclusivamente de clubes menores, no caso de Londres em específico apenas 800 ingressos foram vendidos, em duas datas. Isso fez com que esse seja um dos concertos com zero cara de superprodução.

Pelo contrário, ele é simples e direto. Utada na frente cantando, com uma banda ao fundo, três telões - sendo que dois deles só tem a arte da capa do disco sendo tocado - e um público muito próximo ao palco. Esse concerto tem uma sensação de proximidade que acho que nenhum outro concerto dela conseguiu alcançar até hoje.


A outra coisa legal é que a timidez que comentei no começo do texto, é quase inexistente aqui. Nesse concertos vemos a Hikki descabelada, brincando com a plateia e mandando música atrás de música. Também acho a qualidade musical em si, por parte da banda, bem acima da média. Não sei se a versão do DVD recebeu algum tratamento, mas a qualidade é bem maior do que o usual para concertos que já vi em clubes.

Falando em brincar com a plateia, em algum momento ela pergunta para a plateia "Quem ai é Japonês?" e algumas pessoas levantam a mão. Ela olha para um cidadão e manda um "Ah não, você não é não!". Olha como estava soltinha nesse dia. 

Ao longo do concerto ela fala com o público em inglês, e também toca muitas da músicas da discografia dela em inglês - especialmente os seus dois álbuns Utada (2004) e This Is the One (2009). Acho que é esperado, e até normal, que talvez eles pensassem que cantar muitas músicas em japonês pudesse alienar o público. É uma linha de raciocínio errada na minha opinião, mas existe de certa forma até hoje.

Apesar disso, é legal que esse seja um concerto focado especialmente nos álbuns em inglês, que acabam sendo um pouco negligenciados nos concerto em japonês. 

Talvez a Utada mais falante, mais interativa, mais próxima, seja a grande cartada desse concerto. Talvez eu tenha aprendido mais sobre ela nas interações com a plateia nesse concerto do que em várias das entrevistas dela. 

Ela tem vários outros bons concertos, como já mencionado anteriormente. Uma menção honrosa é o concerto no Nippon Budoukan em 2004. Infelizmente acho que a parte da produção, da gravação e não do show em si, não é tão boa. Na realidade, ela fica devendo para um concerto musicalmente tão bom.


KEYAKI KYOUWAKOKU (2018)


Dentre as idas e vindas do Keyakizaka46, há um concerto em específico que eu sempre retorno pra ver.

O Keyaki Republic foi uma série de concertos anuais em que o grupo fazia concertos ao estilo festival, fora dos tradicionais estádios, arenas, teatros e similares. Isso significa também que esse é um concerto muito mais aberto - e ter muitos membros ajuda que eles estejam em muitos lugares ao mesmo tempo.

Eu já vou comentar de coisas específicas das performances em si, mas talvez a grande parte desse concerto é que ele parece tão divertido. Ele tem uma energia bem "você tinha que estar lá", e realmente, assistindo eu gostaria muito de ter estado lá. Voltar no tempo para ver Jesus Cristo? Como construíram as pirâmides? Não, Keyaki Republic 2018 sem nem pensar.

Por todas essas características, o concerto começa extremamente próximo dos fãs - jogando água e espuma neles. Tudo isso com o Monte Fuji no fundo. Poderia ficar mais legal do que fazer um concerto com um vulcão ao fundo?

O concerto tem algumas temáticas bem legais e é visualmente bem bonito. Eu também tenho que confessar que tenho um fraco por consertos que tentam fazer os membros da banda/grupo usarem os uniformes correspondentes das músicas. No KYR eles não fazem isso o tempo todo, mas eles tem a sensibilidade de notar os momentos certos.

Outra vantagem de ter um grupo grande é que é um pouco mais fácil de construir o setlist - as trocas deixam as posições da músicas mais flexíveis e permitem as trocas que mencionei acima. Fica tudo bem orgânico.

A produção de palco em si, também é bem legal. Ela é razoavelmente simples, mas eu gosto de como os telões fazem parte da performance exatamente como são nas arenas - eles acrescentam bastante nas performances, ao ponto de que as vezes sem eles as performances parecem incompletas. Era o caso de algumas performances do Keyakizaka46.


Há algumas coisas sutis em concertos que as vezes são bem negligenciadas, e nesse caso acho que souberam usar bem. Ao longo do concerto a tarde vai caindo e a noite vai chegando. Por isso, as músicas com mais uso do telão e luzes, estão mais para o fim do concerto - por terem um efeito melhor ao entardecer. Eu pessoalmente adoro esse tipo de detalhe. Uma das primeiras música pós-performance do Hinatazaka46, quando a tarde começa a chegar ao fim é "Eccentric", uma música com estilo um tanto mais sombrio - não ficaria tão legal com o sol castigando uma hora antes.

Eu sempre elogio as performances do Keyakizaka, e não é pra menos, elas eram boas desde a primeira performance, mas essa talvez só seja rivalizada pela performance do Tokyo Dome no ano seguinte. Gosto que deram pra elas um palco espaçoso e bem composto, pra que tudo saísse exatamente como deve ser. E deram um jeito delas não escorregarem naquela espuma. 

Como mencionado, a versão que vi foi a lançada em DVD/BluRay. A edição do concerto também é especialmente boa - certamente é algo a mais poder ver as paisagens próximas e os acontecimentos de ângulos tão diferentes. O trabalho de câmera é uma parte muito importante desse concerto - e isso é algo em que eles se saem melhor do que o Tokyo Dome. Sendo justo, eles tinham mais o que mostrar (Paisagens, arredores, palco, fãs, etc) do que tinha o TD.


Nada disso importaria se o concerto não fosse bom em si. Esse concerto tem algumas performances bem lendárias entre os fãs, e algumas que são a opção número um quando se trata da performance ao vivo de algumas músicas específicas. Algumas das minhas favoritas estão aqui: "Garasu wo Ware" do Tokyo Dome e do Concerto de Aniversário são boas, mas não tem a mesma energia do público e do palco como do KYR.

Se o Tokyo Dome foi feito para ser o concerto perfeito do grupo, acho que o Keyaki Republic tem a beleza das imperfeições. Os vocais nem sempre são ótimos, as vezes os confetes são jogados de volta para o palco pelo vento - mas esses são os queimadinhos que deixam a comida mais gostosa.

O primeiro post que fiz aqui nesse blog foi sobre o Keyaki Republic 2019 -  o concerto do ano seguinte, e que eu aguardei ansiosamente. Deve ser uma vergonha alheia danada ler isso hoje em dia. O concerto não é muito bom, em parte pela performance, mas também pelas condições climáticas (chuva) do dia. O KYR18 teve a sorte de ter o dia perfeito.


(Caramba, eu já prometia texto nessa época, eu não aprendi nada).


ZARD - WHAT A BEAUTIFUL MOMENT (2004)


No texto da Utada, eu comentei que ela tem um perfil um pouco mais tímido no palco. 

Bom em comparação com a Izumi, ela parece o Mick Jagger.

Esse concerto tem um ponto especial que não pode deixar de ser mencionado. Esse concerto é o único, até hoje, que podemos ver do ZARD - ela realizou uma única turnê em sua carreira, a "What a Beautiful Memory", de 2004. Ela anteriormente só tinha feito um concerto privado para fãs em um cruzeiro, para um pequeno público.

Essa turnê de 2004 teve 10 datas, e bem, tivemos o prazer de ver ao menos uma.

Mas para além da mística de ser o único concerto, o que tem de especial aqui?

A Izumi tem um perfil bem específico de se apresentar. Vestida toda de preto, ela estaciona na frente do seu microfone, ajeita o pedestal e canta. É isso, boa noite. Toda a expressão que temos dela é toda feita através da voz, expressões faciais e gesticulação. Não parece tão impressionante, mas eu posso garantir que ela faz funcionar.

Talvez a parte mais produzida do concerto seja a banda que acompanha ela. Há um grande número de músicos e eles dão um show a parte - na composição de palco, embora a Izumi esteja sob o spotlight e seja obviamente a atração principal, no palco ela parece só uma parte dessa grande banda. Há até uma sessão do meio para o final do concerto para apresentar todos os músicos, e são quase quinze ao todo.

O outro ponto é claro, é o próprio vocal da Izumi. Ela é notoriamente uma boa cantora, com um estilo e timbre bem pessoal. A performance ao vivo dela é muito impressionante - talvez por não fazer shows em quantidade industrial, mas frequentemente a voz dela lembra a voz de estúdio. Limpíssima. 

Por isso, esse é um concerto quase todo embasado na qualidade musical. A Izumi tem um certo carisma, difícil de descrever, porque mesmo com o pouco que ela mostra, é difícil não gostar dela. A imagem de pessoa misteriosa que nós sabemos tão pouco certamente nos deixa sempre intrigados.


A outra parte porque eu gosto é mais pessoal. Música certa na hora certa. Na época em que fui atrás do concerto, estava ouvindo bastante ZARD e passando também por um momento bem ruim na minha família - e as letras do ZARD são bem pessoais. Acho que essa conexão me fez gostar ainda mais de todas as músicas, e principalmente desse concerto - é um pouco apoteótico até. Isso porque eu sabia o que estava sendo cantado ali, de fato.

Por isso, talvez esse não seja o mais impressionante da lista - bem provavelmente, quem procura algo para além da música - o espetáculo - talvez não encontre nesse concerto. Da lista, esse é o mais puramente voz e música, e nisso ele é muito bom.

Esse concerto também é usado como base para o concerto póstumo "What a Beautiful Memory", produzido após sua morte. Nele temos a mesma configuração - um microfone em um pedestal vazio, em meio a tantos músicos talentosos. 

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Obrigado por ler




Como foi essa semana...


Esses concertos estão no YouTube. Não na melhor qualidade, mas estão. Ao menos por enquanto.



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